Aposta contra real cai ao menor nível desde novembro de 2013

Por Ye Xie, Chiara Vasarri e Filipe Pacheco.

O mercado de câmbio está ficando mais convencido de que a alta do real neste ano, a maior do mundo, está longe do fim.

Investidores estrangeiros reduziram suas posições contra a moeda no mercado futuro em 33 por cento desde o fim de 2015, para US$ 15 bilhões, menor valor desde novembro de 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg e pela BM&FBovespa. As apostas haviam batido recorde de US$ 39 bilhões em maio de 2015.

Pessimistas em relação ao Brasil e a maioria de analistas que acompanham o país foram pegos de surpresa pelo rali de 10 por cento do real no primeiro trimestre, impulsionada pelo otimismo de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff permitirá a entrada de um novo governo mais bem preparado para permitir o crescimento da maior economia da América Latina e para cortar gastos. A reversão no mercado de derivativos pode dar mais suporte ao real, dificultando o trabalho do Banco Central para desacelerar o rali.

“Está caro apostar contra o real”, disse Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da corretora Coinvalores CCVM em São Paulo, em entrevista por telefone. “O cenário político está melhorando por aqui. Um choque de credibilidade poderia trazer o dinheiro estrangeiro de volta ao Brasil”.

Aos investidores vendidos custa cerca de 11 por cento ao ano manter sua posição contra a moeda brasileira, com base nos yields implícitos dos contratos a prazo. O real precisaria ter uma desvalorização maior do que essa para ser uma boa aposta. A depreciação se tornou mais difícil depois que estrangeiros injetaram US$ 4 bilhões na economia neste mês até 15 de abril, após saídas de moeda estrangeira, incluindo comércio e investimentos, totalizando US$ 12 bilhões nos dois meses anteriores, segundo dados do Banco Central.

Neste ano, o real acumula uma valorização de 11 por cento, após ter atingido o valor mais alto em oito meses, de R$ 3,4607 por dólar, em 14 de abril. O impulso perdeu força no mês passado, quando o BC retomou as vendas de swaps cambiais reversos, o equivalente a comprar dólares no mercado futuro.

A Câmara dos Deputados votou favoravelmente à saída de Dilma, em 17 de abril, enviando o processo de impeachment ao Senado e abrindo a possibilidade de o vice-presidente Michel Temer assumir o poder. Embora o próprio partido de Temer esteja envolvido no mesmo de corrupção que minou o apoio a Dilma, espera-se que reconquistará a confiança do investidor ao nomear uma equipe econômica de credibilidade, que poderá incluir o ex-presidente do BC Henrique Meirelles, disse a consultoria política Eurasia Group em um relatório em 20 de abril.

“Ainda há espaço para pequenas altas”, disse João Pedro Ribeiro, estrategista da Nomura Holdings em Nova York.

Para os estrategistas do Citigroup, fatores globais, incluindo o preço das commodities e aumento de apetite por risco, provavelmente terão uma importância maior agora que a turbulência política interna foi em grande parte precificada. Com uma recuperação econômica na China e um Federal Reserve visto como mais dovish, o real permanece atraente por causa das taxas de juros do Brasil, escreveram os estrategistas Kenneth Lam e Dirk Willer em uma nota na quinta-feira. Eles recomendam que os clientes apostem no avanço do real por meio de opções.

“No futuro, acredito que essa posição a descoberto deveria cair mais apenas se e quando o impeachment de Dilma realmente ocorrer”, disse Leonardo Monoli, sócio da Jive Asset Gestão de Recursos em São Paulo, que é a maior compradora independente de ativos distressed do Brasil. “É claro, a redução ou o aumento dessa posição influenciará o preço da moeda”.

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