Aposta em zebra no Copom divide analistas e operadores

Por Josué Leonel e Vinícius Andrade com a colaboração de Patricia Lara e Vitor Martinez.

O mercado financeiro espera majoritariamente que o Banco Central mantenha o ritmo de corte da Selic de 0,75 pp no Copom desta quarta-feira, reduzindo a taxa para 12,25%. Ainda que a melhora das expectativas de inflação, a valorização do real e a percepção de atividade fraca deixem espaço para uma redução mais agressiva do juro, a visão da maioria dos analistas é de que o risco de nova surpresa é menor neste encontro do que no anterior. Para os operadores do mercado de juros, a aposta majoritária também é em -0,75 pp, mas sem tirar totalmente o pé de -1 pp.

Entre os 48 economistas pesquisados pela Bloomberg, 47 estimam a Selic recuando de 13% para 12,25% e apenas um vê o juro caindo um ponto, para 12%. Os quatro dissidentes que no Copom passado acertaram o corte de 0,75 pp, do Itaú, Caixa Asset, Fibra e ARX, desta vez estão alinhados ao consenso.
Entre operadores, o consenso parece menor. A precificação no mercado de juros futuros mostra corte de 81,5 pontos da Selic, mais próximo a 0,75 pp do que 1 pp, mas sem descartar uma zebra.

Olavo Souza, operador de renda fixa e câmbio da Mirae Corretora, considera que a chance maior é de o BC manter o corte de 0,75 pp, mas a probabilidade de zebra é mais elevada do que está sendo precificada no mercado. Ele considera que, embora os DIs apontem 16% de chance de corte de 1 ponto, essa probabilidade é na verdade maior, de cerca de 40%. “A aposta em 100 pontos está barata”, diz o operador. “Não tem porque o BC não acelerar. A inflação está muito baixa e a economia muito fraca.”
Ele considera ainda que, no Copom anterior, o BC acelerou o ritmo de corte apesar de o “risco Trump” ser na época maior do que hoje e de o dólar estar em R$ 3,19, ante R$ 3,09 agora.

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José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, único a projetar redução mais agressiva de 1 pp na pesquisa Bloomberg, considera que a credibilidade do Banco Central pode ter peso na decisão. Para ele, neste Copom pode ser a hora de o BC utilizar o prestígio de ter ancorado as expectativas para acelerar o ritmo de cortes.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tem projeção de -0,75 pp, mas não descarta -1 pp. “Corte de 1 pp é perfeitamente cabível e há espaço para aceleração sem prejudicar cenário de inflação.”

Para a maioria dos analisas, no entanto, ainda não é o momento de nova aceleração do corte da Selic. Talvez, na reunião seguinte, o Brasil possa ter passado algumas etapas importantes da reforma da Previdência e, “se correr tudo bem”, BC passaria a ter argumento adicional para aceleração do corte do juro, diz Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez no Brasil.

A chance de “nova surpresa” no Copom de fevereiro é bastante menor do que no anterior, “não só porque estamos em ritmo bastante acelerado, mas porque não acho que BC tenha a intenção de surpreender o mercado repetidamente”, diz João Pedro Ribeiro, estrategista da Nomura, em entrevista por telefone, de Nova York.

Outro ponto que inibe as expectativas de corte maior é a falta de sinais do BC. Roberto Padovani, economista do banco Votorantim, diz que o “espaço para queda de juros é enorme” e há fundamentos para acelerar o ritmo de corte, mas nesse caso o BC “comunicaria a estratégia antes”.

Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra, o cenário da atividade não está indo na direção do 1 pp. Segundo ele, o presidente Ilan Goldfajn sinalizou que 0,75 pp é o “novo normal”.

O IPCA-15 que será divulgado nesta quarta-feira pode afetar o mercado de juros, mesmo que não interfira no Copom. Economistas pesquisados pela Bloomberg estimam índice de 4,99% em doze meses, abaixo de 5% pela primeira vez desde 2010. Bruno Rovai, economista do Barclays, acredita que, mesmo que o número venha abaixo do esperado, este Copom não deve mudar a decisão, mas seria possível ter uma orientação de abertura de espaço para aceleração do ritmo na reunião seguinte, em abril.
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