Apostas em mercados emergentes saem errado para bancos europeus

Por Charles Penty e Stephen Morris.

Os bancos europeus que apostaram seu crescimento nos mercados emergentes enfrentam uma perspectiva de lucros em deterioração porque as agitações estão turvando várias economias, da Ásia até a América do Sul.

Bill Winters do Standard Chartered Plc, que assumiu como CEO em junho, poderia experimentar um crescimento dos empréstimos de liquidação duvidosa na Ásia, onde o banco obtém a maior parte dos seus lucros. O Banco Santander SA e o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA, os maiores credores da Espanha, dependem da renda vinda da América Latina porque taxas baixas de juros limitam o crescimento no seu país.

A desvalorização inesperada do yuan feita pela China no mês passado alimentou a preocupação com que a economia mundial esteja avançando para uma desaceleração, apesar de que o Federal Reserve (Fed) dos EUA esteja se preparando para subir as taxas de juros pela primeira vez em nove anos. As moedas de vários países, da Malásia a Turquia até o Brasil, despencaram, e um índice de commodities caiu para seu valor mais baixo desde 1999 no mês passado.

“O Standard Chartered experimentou o infeliz golpe duplo de uma depressão nos preços das commodities e efeitos adversos das moedas de mercados emergentes, que prejudicaram sua perspectiva de crescimento e de qualidade de crédito”, disse Jonathan Tyce, analista sênior de bancos da Bloomberg Intelligence. “Aproximadamente 20 por cento da carteira de empréstimos do BBVA e do Santander estão na América Latina, portanto eles sofreram uma mudança na confiança”.

As ações do Standard Chartered tiveram a maior queda entre os bancos europeus fora da Grécia desde o começo de agosto. O Santander, o BBVA e o HSBC Holdings Plc também despencaram mais que um índice de ações de bancos europeus.

Recuo das commodities

A Grande China respondeu por quase dois terços dos lucros operacionais do Standard Chartered no primeiro semestre. Como o crescimento na região está desacelerando, a depreciação dos créditos do banco aumentará para US$ 3,3 bilhões neste ano e no próximo, ou cerca de um terço a mais do previsto anteriormente, segundo estimativas do analista da Jefferies International Ltd. Joseph Dickerson. Isto chega depois de um salto de 70 por cento para US$ 1,7 bilhão no primeiro semestre.

Para o HSBC, o tumulto na Ásia chega dois meses depois que o CEO Stuart Gulliver anunciou planos para transferir investimentos para a região, que respondeu por 69 por cento dos lucros no primeiro semestre. O HSBC venderá suas operações no Brasil e está negociando vender sua divisão na Turquia como parte de uma retirada das unidades em países com retornos baixos.

Sob a gestão do ex-presidente Emilio Botín, o Santander gastou mais de US$ 70 bilhões na sua transformação de um credor provincial para o segundo maior banco da Europa por valor de mercado com uma sequência de aquisições, entre elas a do Banco Real no Brasil e do Abbey National no Reino Unido.

Brasil

O Santander gera cerca de um quinto dos seus lucros com o Brasil, país rico em commodities que depende da demanda chinesa por metais e se encaminha para sua pior recessão desde 1990. A presidente Dilma Rousseff enfrenta pedidos de impeachment diante da queda da sua popularidade.

“A economia está muito ruim no Brasil e a situação política não está melhorando”, disse Andrea Williams, gerente de carteira da Royal London Asset Management Ltd.

O BBVA derivou dois terços da sua renda operacional do México, da América do Sul e da Turquia no primeiro semestre. Embora alguns economistas estejam diminuindo suas previsões de crescimento para o México, ainda se projeta que o PIB se expanda 2,5 por cento neste ano, com base em uma pesquisa da Bloomberg.

Na Turquia, contudo, um impasse político, maiores riscos para a segurança e a aceleração da inflação empurraram a lira para um valor mínimo recorde frente ao dólar. O BBVA é dono de quase 40 por cento do Turkiye Garanti Bankasi AS, o maior banco do país.

“A pergunta para os bancos espanhóis tem sido como consertar seus balanços com os lucros retidos”, disse Tano Santos, professor de Finanças da Columbia Business School em Nova York. “Tudo que afetar sua capacidade de fazer isso voltará para atormentá-los”.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.