Por Felipe Saturnino e Josue Leonel.
A reforma da Previdência pode ser decisiva para a política monetária em 2019, independentemente de a proposta ser aprovada ou não. O fracasso da reforma poderia levar o Banco Central a elevar os juros para segurar um possível estresse do câmbio. Por outro lado, o otimismo gerado pela eventual aprovação da proposta poderia acelerar o crescimento do PIB e reverter o cenário dos últimos anos, em que a atividade desaquecida manteve contidas as pressões inflacionárias.
Só uma inesperada supervalorização do real – hoje não prevista pelo mercado – seguraria a alta da Selic. Mesmo com o otimismo gerado pelo discurso pró-reformas do novo governo, o mercado futuro de juros segue sinalizando uma possível alta da Selic no próximo ano, que começaria entre o meio e o final do primeiro semestre. A pesquisa Focus do BC prevê que a taxa Selic fechará o próximo ano em 8%, ante os atuais 6,5%.
Se o Congresso aprovar a PEC da Previdência, a economia poderá reagir mais fortemente e exigir uma alta da Selic, diz Roberto Secemski, economista do Barclays. Para ele, a curva de juros reflete um pouco de prêmio de risco, mas também a visão de que será preciso elevar o juro básico de qualquer maneira. O Barclays espera que a Selic chegue a 8,5% no fim de 2019, embora veja possibilidade de adiamento do início do ciclo de alta.
Um crescimento forte do PIB, após a aprovação da reforma da Previdência, poderia levar o BC a elevar em, ao menos, 100 pontos base a taxa Selic, disse o economista Marcelo Kfoury, professor da FGV. Para Luiz Eduardo Portella, sócio da Novus Capital, a parte longa da curva de juros exige mais informações sobre votação da reforma da Previdência, mas ele concorda com a tese de que um crescimento econômico maior fará o BC agir. Ele prevê +4% de PIB no ano que vem e considera que o BC deverá ter de começar a elevar juro entre março e maio. “O hiato deve fechar mais rápido do que o mercado está esperando”, diz Portella.
O que poderá mudar a precificação de alta de juros, para alguns analistas, é uma eventual queda expressiva do dólar, que poderia amenizar as expectativas inflacionárias. As apostas atuais refletem a aposta de que o BC brasileiro terá de elevar o juro acompanhando as altas das taxas do Fed americano, mas isso pode ser revertido, diz Bernd Berg, estrategista da Woodman Asset Management. “Eu espero uma reprecificação massiva no mercado de DI em meio a uma inflação contida e a um rali do real assim que o novo governo lance suas reformas em 2019.”
O mercado está precificando risco na curva de juros, pois não há certeza de que haverá uma reforma ampla, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “Como a reforma vai ter impacto relevante na perspectiva fiscal do país, de médio e longo prazo, então ela também teria impacto no câmbio, na percepção de risco do país”, diz o estrategista.
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