Argentina, esperança de lítio barato, enfrenta falta de talentos

Por Jonathan Gilbert.

Na corrida global para abastecer a revolução dos carros elétricos, a Argentina, de importância central para o lítio, enfrenta uma escassez de mão de obra especializada.

As fabricantes de baterias dependem das salinas localizadas em altitudes elevadas do país sul-americano como oferta-chave do metal, e as enormes jazidas e um governo aberto a investimentos estão atraindo empresas de exploração e desenvolvedores. Com o presidente Mauricio Macri, a Argentina tem a ambição de se transformar em uma superpotência do lítio, respondendo por até 45 por cento do mercado, contra 16 por cento atualmente.
Os projetos têm enfrentado dificuldades climáticas e de financiamento imprevisíveis. Mas talvez a maior barreira para o desenvolvimento seja a escassez de trabalhadores qualificados.

“Na Argentina, todos querem ser advogados ou médicos”, disse Miguel Ángel Persoglia, que trabalhou em projetos de cobre e prata e atualmente dirige as operações piloto da Minera Exar, uma joint venture entre a Lithium Americas e a Soc. Química & Minera de Chile. “Não há pessoal técnico” para o lítio.

A escassez de conhecimento local pode ser vista como um problema crescente em uma indústria nova, exacerbado, além disso, pela concorrência de outras indústrias, como a de gás de xisto, em um momento em que a desregulação realizada pelo governo Macri ajuda a impulsionar a economia.

Até dois anos atrás, a única empresa que extraía lítio em escala comercial da salmoura argentina era a FMC, com sede nos EUA, que iniciou operações no Salar del Hombre Muerto em 1997. A australiana Orocobre se transformou na segunda maior produtora do país em 2015.

O empreendimento SQM-Lithium Americas nas salinas de Cauchari-Olaroz, a cerca de 4.000 metros acima do nível do mar, na província de Jujuy, planeja começar a produzir carbonato de lítio a uma taxa anual de 25.000 toneladas em 2019. Dezenas de outros projetos estão em fase inicial.

A Argentina pretende tirar participação de mercado do vizinho Chile, onde os intere produtores candidatos precisam de autorização da comissão de energia nuclear devido a uma decisão de 1979 que declarou o lítio como “estratégico”.

A extração de lítio da água salgada é mais barata e fácil do que a mineração em rocha dura. As produtoras fazem perfurações em busca de salmoura, depois bombeiam o líquido com mangueiras gigantes para tanques de evaporação de cor azul-turquesa. O que resta é processado e vira carbonato de lítio.

Mas empresas como a Orocobre descobriram que o processo é mais complicado do que pensavam. A empresa com sede em Brisbane, Austrália, que opera na Cauchari-Olaroz em parceria com a Toyota Tsusho, citou a falta de conhecimento em engenharia como o fator que contribuiu para o fracasso em atingir uma meta de produção de mais de 15.000 toneladas para o ano até junho. Como o clima nublado também dificultou a evaporação e as tempestades de neve interromperam a chegada de uma importante substância química importada, a produção foi de cerca de 11.900 toneladas.

“Não é possível gerar conhecimento de uma hora para a outra”, disse Cristian Saavedra López, um chileno que dirige as operações de lítio da Orocobre na Argentina. A empresa trabalha há cerca de dois anos com a Universidade Nacional de Jujuy para capacitar os funcionários atuais e os estudantes que poderiam se candidatar a empregos na mina, disse Saavedra López.

Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.

Agende uma demo.