A Venezuela pode não ser capaz de pagar suas dívidas externas, diz Ricardo Adrogue, chefe de dívidas em mercados emergentes do grupo Babson Capital Management, que gerencia US$ 3,35 bilhões, e lidera a administração do portfólio estratégico de dívida local. Argentina é uma oportunidade de longo prazo, disse Adrogue a Carolina Wilson, do Bloomberg Brief, em uma entrevista realizada em Boston no dia 23 de novembro. Seus comentários foram editados e resumidos.
P: Por que comprar dívida em moeda local de mercados emergentes?
R: Os mercados emergentes nos próximos 12 meses devem ter financiamento suficiente. A expectativa de que o Fed vai elevar os juros certamente tem um efeito negativo sobre os fluxos de carteira, mas não deve ser esmagadora.
P: Por que agora?
R: De uma perspectiva de valor, ajustando os preços das commodities, o mercado emergente está finalmente barato. Em segundo lugar, esta é a primeira vez nos últimos três anos que vemos os mercados emergentes dispondo de financiamento suficiente para a diminuição de déficits em conta corrente.
P: Onde está a oportunidade na América Latina?
R: Há muitas oportunidades na América Central e Caribe. Esses são créditos que não são muito bem avaliados, países classificados em duplo B tipicamente oferecem um alto spread. Nós pensamos que a Colômbia estava realmente vendida seguindo a desvalorização da moeda, mas o país não enfraqueceu estruturalmente. A moeda do Brasil pode ter enfraquecido o suficiente. No que diz respeito às taxas, provavelmente a oportunidade mais atraente deve ser o México e Colômbia. Não muito o Brasil, Chile ou Peru.
P: Por que o México?
R: A economia mexicana não fez o que muitas pessoas esperavam, mas é fortemente ligado aos EUA e nós percebemos que os americanos estão em uma boa trajetória. De uma perspectiva de taxas, o que gostaria de salientar é que a única razão pela qual o núcleo da inflação no México é superior ao do EUA é porque o México tem atrasado o repasse de preços mais elevados do petróleo, diferentemente do ajuste feito três anos atrás. México não costuma ajustar os preços domésticos dos combustíveis ou da gasolina, e isso é por que a inflação global é superior ao dos Estados Unidos. Taxas mexicanas ainda estão em um grande prêmio sobre a taxa local dos EUA, oferecendo uma oportunidade muito atraente.
P: Por que não o Brasil?
R: Eu não acho que o Brasil está fazendo o suficiente do ponto de vista fiscal. Portanto, a recente retração das taxas deve ser apenas temporária. Até que o Brasil faça a lição de casa no lado fiscal, nós não vemos como sua dívida pode ser sustentada. Não é do lado da dívida externa que o Brasil está em risco, dado que o país tem um monte de reservas e parece estar muito disposto a proteger as reservas. É mais sobre a dívida local, e se a inflação vai baixar muito, como o mercado está esperando.
P: O que preocupa em relação ao Peru?
R: Não é tão ligado a solvabilidade, é mais sobre a moeda. O Peru tem sido muito dispostos a abrandar o ajuste sobre a moeda e assim como aconteceu na Colômbia e talvez no Chile. O Peru tem eleições no próximo ano. Vale a pena ficar à margem através de todo o ciclo eleitoral.
P: Você é otimista sobre a Argentina?
R: Foi um resultado positivo nesta eleição. Com o tempo o país vai ser uma história de melhoria. Nós não pensamos que vai ser iminente que tudo será fácil para a nova administração. Eles terão que lidar com a oposição, com a moeda sobrevalorizada e com o financiamento do setor público. Nós não pensamos que este é necessariamente o melhor momento para comprar, mas certamente no longo prazo será um outperformer.
P: E a Venezuela?
R: Com os preços do petróleo onde estão, e sem o governo fazer ajustes significativos sobre a economia, é muito difícil ver como Venezuela pode permanecer cumprindo suas obrigações. Uma eleição vencida pela oposição não se traduz necessariamente no cumprimento do pagamento de suas obrigações. De fato, a oposição disse que alguns meses atrás, que seria ideal para Venezuela realmente parar de pagar a sua dívida externa. Assim, a partir dessa perspectiva, a Venezuela pode ser mais uma armadilha do que uma oportunidade de investimento neste momento.
P: Qual a visão das pessoas sobre a AL?
R: Eu acho que um país que as pessoas negligenciam é o Uruguai. É um país pequeno, mas muito bem administrado. Tem muito bom valor em quase todas as classes de ativos no lado de renda fixa. Moeda forte, títulos e obrigações indexadas à inflação em Uruguai são bastante atraentes.
P: E os juros?
R: Na medida em que estamos mais perto do fim da fraqueza da moeda, isso irá trazer a atenção dos investidores que essas economias são ciclicamente fracas. Tendo moedas mais desvalorizadas, [eles] terão espaço para cortar as taxas de juros. Eu não vejo isso como improvável com os aumentos do Fed, muitos mercados emergentes, na verdade, estão com taxas de juros mais baixas. Taxas locais parecem bastante atraentes.