As razões pelas quais os temerosos têm medo do ouro

Por Matt Winkler, com a colaboração de Shin Pei

O pior janeiro do mercado de ações coincide com várias previsões de que a queda do ouro atingiria o seu pior nível em relação ao pico de 2011. O ouro é o investimento dos receosos, e existe o temor de praticamente tudo, da recessão ao terrorismo. Na verdade, o ouro registrou uma recuperação de 6,3% nas últimas seis semanas.

Em uma análise casual, é fácil concluir que o preço do ouro não tem para onde ir a não ser para cima, depois de quatro anos em queda, tendo atingido o menor valor de US$1.045 a onça, vindo de um valor recorde de US$1.923 – uma queda de 46%, medida com base em contratos futuros.

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Mas olhe com mais atenção e perceberá que o ouro caiu muito mais rápido e muito antes. Entre janeiro de 1980 e junho de 1982, por exemplo, o metal precioso perdeu 66% do seu valor, caindo de US$ 873 para US$298.

Isso fez sentido. O preço do ouro havia sido impulsionado pela inflação, que subiu para 14,8% antes de recuar para 2,5% em julho de 1983. O rendimento na nota do Tesouro de 10 anos, um reflexo da determinação do Federal Reserve para apoiar ativos financeiros, atingiu 16%. À medida que essas taxas caíram ao nível normal, o mesmo aconteceu com o ouro. A inflação hoje é pouco visível, em torno de 0,7%.

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Novembro de 1981 marcou o início de uma rápida expansão da globalização, autoridades monetárias coordenadas e mercados robustos em títulos e ações. Durante as duas últimas décadas do Século XX, os retornos sobre esses investimentos foram esmagadores – o índice 500 do Standard & Poor’s valorizou 1099%, enquanto os títulos do Tesouro dos EUA registraram uma média de 432% de rendimento e ganhos de preços.

No Século XXI eles demonstraram mais uma vez sua resistência, quando o S&P 500 e os títulos do Tesouros subiram 76% e 126% respectivamente. Fato esse ocorrido apesar de uma especulação sem precedentes em imóveis residenciais e comerciais, a subsequente crise econômica e a pior recessão desde a Grande Depressão, o que marcou o início de recuperação do ouro até que os governos e autoridades monetárias restaurassem a confiança.

Embora o ouro tenha relutado durante vários anos na crise imobiliária e crise financeira, não conseguiu se igualar aos retornos de ações ou títulos na expansão subsequente.

Agora, a desaceleração da China alimentou ansiedade suficiente para dar brilho ao apelo do ouro. Entre 24 operadores e analistas consultados pela Bloomberg News, 17 estão otimistas com o ouro. Alguns investidores globais preveem o fim do crescimento dos Estados Unidos e uma quebra da bolsa semelhante ao desastre de 2008. O maior fundo de negociação de ouro do mundo, o SPDR Gold Shares previu um aumento de fluxo de capital de 3,8% durante as últimas quatro semanas, após US$ 2 bilhões em saídas em 2015, ou 7,6% de sua total capitalização de mercado.

No entanto, em meio ao pessimismo atual, os ativos financeiros não mostram sinais de que vão perder a sua vantagem. Isso porque estão sustentados por uma economia que não mostra nenhuma das deficiências que levaram à última recessão ou qualquer uma das precedentes.

A alavancagem do crédito é apenas uma mera sombra do que foi há sete anos. As proporções de dívidas corporativas entre as maiores e as menores empresas do Russell 3000 estão agora nos patamares mais baixos dos últimos 30 anos. As residências norte-americanos estão em sua mais alta valorização desde outubro de 2007, enquanto os preços das casas subiram por 10 meses consecutivos, a maior sequência desde 2006. Ao mesmo tempo, a oferta de casas permanece perto do ponto mais baixo da história, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A recuperação tardia dos proprietários de imóveis dos EUA significa que eles estão se sentindo mais confiantes.

Enquanto isso, o restante da economia dos Estados Unidos está à beira da plena empregabilidade, o que ajuda a explicar o motivo pelo qual o Federal Reserve decidiu no mês passado aumentar as taxas de juros pela primeira vez desde 2006. O relacionamento do Fed com investidores globais está mais forte do que em qualquer outro momento das últimas três décadas, conforme medido pela estabilidade de ativos financeiros. No mercado de US$13 trilhões para a dívida do governo dos EUA, a volatilidade média de títulos do Tesouro dos EUA caiu 25% desde que Janet Yellen assumiu a presidência de Ben Bernanke no Fed, e está 69% do que estava sob Alan Greenspan, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

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Para os entusiastas do ouro, estes não são sinais encorajadores. O preço do ouro e o rendimento dos títulos de referência de 10 anos do Tesouro, consistentemente, vêm se movimentando em direções opostas desde 2005 e a tendência está se acelerando, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Essa é a indicação mais segura do encolhimento do mercado do ouro ante o mercado do Tesouro e da submissão à autoridade do banco central quando se trata de combater a inflação.

A menos que o Fed reverta sua política declarada de redução do crédito gradualmente ao longo dos próximos dois anos, as taxas de juros tendem a subir. De acordo com 68 analistas consultados pela Bloomberg, pode-se esperar que o rendimento de 10 anos aumente de 2,1% para 2,5%, até ao final do segundo trimestre de 2016, para 2,7% até ao final do ano e 2,8% em 2017.

Se a história serve de guia, o recente fluxo de fundos para o ouro não significará muito em longo prazo. Embora tenhamos visto em dois meses consecutivos no início do ano passado o SPDR Gold Shares ETF atrair mais de 4% de seu valor de mercado em dinheiro novo e uma tendência semelhante a 2012, essas entradas foram passageiras e seguidas por saídas maiores, segundo dados da Bloomberg.

O que traz à mente o provérbio que fez do ouro um investimento problemático nas últimas três décadas: os tolos correm para lugares onde os anjos temem pisar.

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