Ásia não sofrerá com turbulência nos mercados emergentes

Por Lilian Karunungan com a colaboração de Yumi Teso.

A turbulência nos mercados emergentes segue um padrão similar ao da crise regada a tequila que abalou os ativos financeiros há mais de duas décadas.

Em meados da década de 1990, acréscimos nos juros nos EUA contribuíram para o tombo do peso mexicano e para um movimento de fuga de capital. Alguns anos depois, a chamada crise da Tequila havia se espalhado pela Ásia, que se tornou o centro dos problemas nos mercados emergentes. As moedas da região desabaram e a economia asiática entrou em espiral descendente. Em 2018, a história se repete. Uma crise está se formando na América Latina. A Argentina solicitou recursos emergenciais em meio à valorização do dólar e à alta dos rendimentos dos títulos dos EUA.

Mas desta vez a Ásia está menos vulnerável a um contágio, segundo Nizam Idris, do Macquarie Bank.

As más recordações que a América Latina trouxe à tona têm características em comum com a crise da Tequila, mas hoje as “economias asiáticas estão muito mais fortes”, afirmou Nizam, estrategista-chefe de câmbio e renda fixa do banco em Cingapura. “Os déficits em conta corrente são até menores, as reservas cambiais são muito maiores do que antes e as taxas de câmbio não estão em regime fixo. A situação atualmente não é a mesma de 1995.”

O Commonwealth Bank of Australia também espera que as moedas asiáticas tenham melhor desempenho do que as moedas de outros países em desenvolvimento caso a crise na América Latina se intensifique. Há exceções — a rúpia da Indonésia está mais vulnerável do que outras, dado que o país é um dos poucos asiáticos emergentes com déficit em conta corrente. Porém, as questões que exacerbaram perdas desta vez na Argentina e na Turquia têm natureza mais idiossincrática, com menos riscos de contágio.

“O soco duplo vindo da alta de juros nos EUA e da apreciação do dólar eleva o prêmio de risco de mercado para países emergentes com balanços de pagamentos vulneráveis”, escreveram analistas da Nomura Holdings liderados por Rob Subbaraman, em Cingapura, em relatório publicado em 11 de maio. Tailândia, China e Coreia do Sul estão entre as nações menos expostas a riscos no balanço de pagamentos, segundo o estudo da Nomura com 20 emergentes.

A Ásia está bem mais resistente devido ao progresso feito desde a crise financeira duas décadas atrás, quando muitos países tinham déficits enormes, taxas de câmbio sobrevalorizadas e pouca reserva para cobrir dívidas de curto prazo, explicou Richard Jerram, economista-chefe do Bank of Singapore, em nota divulgada em 14 de maio.

Saldos melhores em conta corrente significam mais bala na agulha para honrar obrigações denominadas em dólares, segundo Andy Ji, estrategista de câmbio do Commonwealth Bank of Australia.

Na economia, os países em desenvolvimento da Ásia devem se expandir a um ritmo médio de 6,5 por cento em 2018, comparado a uma expectativa de 4,9 por cento para os mercados emergentes como um todo, de acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional.

“Os fundamentos na Ásia são melhores do que em outras regiões, enquanto os riscos políticos e geopolíticos também são menores”, afirmou Koji Fukaya, presidente da FPG Securities, em Tóquio. “A alta dos rendimentos dos títulos americanos reflete a situação econômica robusta nos EUA, e a Ásia se beneficia mais do que outras regiões da força da economia dos EUA.”

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