Até onde vai o dólar após passar de R$ 4,00?

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

Esperado por muitos analistas, o rompimento da barreira de R$ 4,00 pelo dólar aconteceu logo na abertura dos negócios desta terça-feira, diante de receios de que a crise política inviabilize o ajuste fiscal e aumente a vulnerabilidade do Brasil em meio a um cenário de alta volatilidade no mercado internacional. A pergunta, agora, é qual o limite desta alta do dólar, que vem ocorrendo gradualmente desde 2011 e se acelerou nos últimos meses.
 

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O dólar já subiu cerca de 140% desde o início do 1º mandato de Dilma, quando os investidores ainda não tinham perdido a confiança na presidente e turistas brasileiros faziam a festa em Miami e Nova York com o real forte. A alta começou a se acelerar com a reeleição da presidente e ganhou novo ímpeto a partir de maio deste ano, quando começaram a ficar mais claras as dificuldades do governo em reverter o déficit fiscal, que culminaram com a perda do grau de investimentos pela S&P.

A alta do dólar está exagerada se for levada em conta a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com cerca de 100 economistas de bancos e consultorias. Na pesquisa desta semana, a mediana das estimativas ainda apontava dólar a R$ 3,86 no final do ano. Embora o dólar já esteja bem acima deste nível, nada, em tese, impede a moeda de recuar e fechar no nível projetado pelos economistas. Mas não é o que alguns analistas mais agressivos pensam.

Bernd Berg, estrategista do banco francês Societé Générale, considera que a alta do dólar pode se acelerar se o Congresso derrubar os vetos de Dilma, aumentando projeção de gastos públicos e tornando praticamente inevitável um novo rebaixamento de rating. Em uma piora “extrema” do cenário político, ele vê o dólar chegando a R$ 5,00, embora ainda mantenha uma previsão mais “moderada”, de dólar a R$ 4,40 em 4 semanas.

O impacto da crise política sobre a tendência para o dólar é praticamente unânime entre analistas do mercado. Enquanto não tivermos algum tipo de visão de como será o cenário político no médio prazo, dólar não deve se acomodar. Cena política responde a 100% do movimento”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. Para ela, o BC está “amarrado” e, mesmo que volte a subir os juros, não vai segura o câmbio.

Alguns analistas consideram que o dólar a R$ 4,00 já está acima do chamado ”nível de equilíbrio”, suficiente para melhorar as contas externas do País. No entanto, o câmbio tem sempre o risco de ficar acima ou abaixo destes níveis, em movimentos conhecidos como ”overshooting”.

Mark McCormick, estrategista do Credit Agricole em Nova York não vê alívio para o real no curto prazo. Para ele, não se pode descartar um dólar a R$ 4,50 em 6 a 9 meses se o desempenho do PIB seguir fraco, a política fiscal se deteriorar e o Brasil ser rebaixado novamente.

E se o dólar subir mais, qual o problema? Além de aumentar o custo da dívida de empresas que captaram recursos no exterior, a desvalorização do real traz ameaça à inflação. Até agora, o próprio BC tem ponderado que, diante da recessão, o repasse do dólar para os preços tem sido limitado. Contudo, economistas consideram que este repasse pode deixar de ser limitado se o dólar atinge níveis ainda maiores.

Em agosto, com o dólar a R$ 3,50, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, disse que o dólar estava “esticado”. O desempenho do câmbio deste então sugere que o mercado não concorda com o diretor. Analistas ainda não veem o BC usando reservas para conter a alta do dólar, dado que isso significaria comprometer um dos poucos fundamentos que não se deterioram nos últimos anos. Para Berg, do SocGen, o BC só vai usar as reservas se o dólar subir muito mais e isso começar a trazer riscos para a estabilidade do sistema financeiro.

O dólar voltou hoje ao nível de R$ 4,00, visto nas vésperas da 1º eleição de Lula, quando o mercado temia que o petista alterasse a política econômica. A alta do dólar foi revertida quando Lula sinalizou que a mudança não viria.

A diferença, hoje, é que a alta do dólar não se deve ao receio da mudança, mas sim aos efeitos da mudança de política econômica que já ocorreu nos últimos anos, com metas fiscais e de inflação não sendo cumpridas e o BC intervindo no câmbio. E reverter estas mudanças está mais difícil do que se pensava.

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