Por Josue Leonel.
O mercado financeiro espera queda adicional do dólar se a eleição do próximo domingo confirmar a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) por larga vantagem, impondo ao PT a primeira derrota em uma eleição presidencial desde 1998. A eventual formação de uma equipe econômica de peso, combinada às reformas e à independência do Banco Central, poderia levar o dólar a nível abaixo de R$ 3,00, dizem analistas.
Os riscos para este cenário, porém, não são ignorados. O fracasso das reformas em meio a uma crise política e um agravamento do cenário externo reverteriam os ganhos dos ativos brasileiros. As expectativas dos investidores estão baseadas na escolha do liberal Paulo Guedes para comandar a equipe econômica de Bolsonaro – já que um plano mais detalhado para a reforma da Previdência e a privatização de estatais, por exemplo, não foi apresentado.
“Para quem tem dólar, o melhor já passou”, diz James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital, que administra US$ 3 bilhões. Ele observa que os ativos brasileiros, como as ações e a moeda, ficaram muito defasados a partir de 2010, quando as políticas intervencionistas da então presidente Dilma Rousseff reverteram a confiança que o país vinha recebendo dos investidores internacionais ao longo do governo Lula.
Se Bolsonaro vencer no domingo com 20 pontos ou mais de vantagem e governadores aliados do candidato do PSL também forem eleitos, o mercado poderá reagir positivamente, ao ver o resultado como sinal favorável às reformas. O investidor ainda vai monitorar a dinâmica entre Bolsonaro e seu provável ministro da Economia, Paulo Guedes, diz Gulbrandsen. “Tem muita possibilidade de o câmbio fechar o ano mais perto de R$ 3,20 e poderá caminhar em direção a R$ 2,00 nos próximos 18 meses.”
Caso o próximo governo tenha sucesso em reformas para reduzir o elevado déficit fiscal do país e dê independência ao BC, o dólar poderá cair para abaixo de R$ 3,00 até a metade do próximo ano, diz Bernd Berg, estrategista da Woodman Asset Management. Este seria o prazo para o governo aprovar reformas como a da Previdência, que poderiam dar um “grande impulso” ao real.
A postura de curto prazo do mercado ainda é de otimismo cauteloso, diante de ameaças internas e externas. No Brasil, o risco maior é o de o próximo governo não conseguir corresponder às expectativas de sucesso com as reformas e o ajuste fiscal. No exterior, a alta dos juros americanos e a guerra comercial entre EUA e China estão entre os pontos mais críticos.
“O Brasil está na contramão do mundo”, diz Nathan Blanche, sócio e diretor da Tendências Consultoria. Ele observa que o país saiu recentemente da recessão e o mercado local tem muito para andar se o governo tiver sucesso, enquanto no exterior os riscos vêm aumentando.
Para Blanche, o patamar do dólar deverá ser de R$ 3,50 no curto prazo, com a eleição selando o “fim do risco-PT”. Ele admite que o BC poderá em algum momento limitar a baixa da moeda americana, com leilões de compra – estratégia que não poderá ser usada indefinidamente, entretanto, devido ao seu elevado custo fiscal. A queda do dólar deve se aprofundar em 2019 desde que novo presidente confirme as expectativas, afirma o diretor da Tendências “Se ficar só na conversa, o trader pega o dinheiro e vai embora.”
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