Por Fabiana Batista e Marvin G. Perez.
Amantes do café, atenção. Os grãos usados para fazer a bebida estão sofrendo com uma seca terrível no Brasil.
No Espírito Santo, a terra está tão ressecada que o governo restringiu a água usada para irrigar plantações durante meses. Como os cursos d’água secaram ainda mais, as restrições foram prolongadas e ficaram ainda mais rigorosas em agosto. Em algumas áreas, os produtores estão proibidos de bombear água dos rios para as plantações. A região é o maior produtor de grãos robusta do Brasil — a variedade usada no café espresso e no café instantâneo.
Para entender o quanto o clima seco pode ser destrutivo para as plantações é só olhar para Moysés Alvino Covre, quarta geração de fazendeiros, que tem uma plantação de 2.500 hectares de robusta em oito fazendas no norte do estado. Em metade dos cafezais as bombas de água foram lacradas pelo governo, o que significa que ele não tem como irrigar essas terras. Na outra metade, ele tem autorização para irrigar à noite, mas isso não traz muito alívio.
“Não está ajudando muito, porque os rios estão secos”, disse Covre, 57, acrescentando que quase não há água nem para beber. “Não tem água, não tem chuva e essas plantas não estão crescendo”.
Futuros em alta
A colheita de robusta do Brasil provavelmente cairá 16 por cento neste ano, para 9,4 milhões de toneladas, a menor desde 2006, de acordo com a Conab. A diminuição da oferta alimentou uma alta de 21 por cento dos futuros negociados em Londres e o Société Générale prevê que os preços poderiam subir mais 30 por cento na próxima safra que começa em outubro de 2017. Para piorar o aperto da oferta, os pés de café estão murchando em um momento em que o governo dos EUA prevê que o consumo mundial de café será o maior de todos os tempos.
No Espírito Santo, as chuvas no período de seis meses até agosto foram de apenas 25 por cento do normal em algumas áreas, de acordo com Drew Lerner, presidente da World Weather em Overland Park, Kansas, nos EUA. A falta de umidade e o calor aceleraram a evaporação e prolongaram uma seca que já dura vários anos, disse ele. As chuvas continuarão escassas até setembro e, apesar de uma possível melhoria em outubro, isso não será suficiente para salvar as plantações das condições severas, disse Alexandre Nascimento, meteorologista do Climatempo em São Paulo.
Além de prejudicar a safra desta temporada, o prolongamento da seca significa que os rendimentos e a produção também cairão no ano que vem. Os cafeeiros estão no começo da temporada de florescimento, quando a umidade é extremamente necessária. No Espírito Santo, essa etapa costuma começar em agosto e seu ponto mais crítico ocorre em setembro.
“Mesmo se começar a chover agora, é pouco provável que a gente tenha uma boa colheita no ano que vem”, disse Romário Gava Ferrão, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) do Espírito Santo.
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