Incerteza política global, regulamentações e reforma tributária são alguns dos fatores que tumultuam o mercado internacional de renda fixa, pelo menos no curto prazo. A recuperação da economia americana segue lenta e não há escassez de dúvidas políticas em Washington e na Europa.
Não surpreende que essas preocupações aumentem a demanda por transparência e atenuação de riscos. Em um mercado em constante transformação, os gestores de ativos intensificam o uso de smart beta na construção de carteiras.
Estratégias smart beta seguem índices construídos com regras diferentes daquelas usadas para criar métricas mais tradicionais, como valor de mercado. Com forte ênfase em regras e transparências, índices smart beta visam identificar fatores de investimento ou ineficiências de mercado que possam ter sido ignorados.
Embora o papel de smart beta tenha aumentado no mercado acionário nos últimos anos, ele é novidade no universo de renda fixa. Com os investidores dando maior atenção ao risco quando desenvolvem suas estratégias, essas ideias “consumiram muita tinta e muito cérebro”, afirmou Antonios Lazanas, responsável por pesquisa de carteiras e índices da Bloomberg, durante um painel sobre estratégias de renda fixa.
Há incentivo de todos os lados para os gestores de ativos aplicarem smart beta quando tomam decisões de investimento. Rick Harper, responsável por câmbio e renda fixa da WisdomTree Asset Management, afirma que um número maior de clientes está falando sobre o assunto. Segundo ele, a WisdomTree ouve muitas “preocupações dos investidores sobre risco no mercado conforme mostram os benchmarks de valor de mercado. Por isso vemos demanda por algo que é um pouco mais intuitivo, um pouco mais direto e sistemático”.
Robert Nestor, responsável pelo iShares Smart Beta, da Blackrock, ressaltou que boa parte dessa demanda vem de investidores institucionais. “Há seis ou sete anos, smart beta não estava sequer no vocabulário dos mercados acionários”, ele conta. “Agora parece estar em toda parte.
Está no setor todo e achamos que o mesmo vai acontecer em renda fixa.”
Dito isso, Nestor espera que a expansão de smart beta na renda fixa progrida mais lentamente do que em outros mercados. Segundo ele, muitos investidores veem renda fixa como “área nebulosa que eles não compreendem completamente”.
Nuances
O crescimento é atrapalhado pelo fato de haver definições e usos diferentes para smart beta. Por exemplo, do ponto de vista do investidor, disse Harper, “muitas vezes a definição de smart beta é de estratégias usadas quando beta não proporciona a exposição a risco que os investidores desejam”. Já Ravi Mattu, responsável global por análises na Pimco, entende que fatores primários de risco — como fator de mercado ou duração de taxa — não podem ser chamados de smart beta. Em vez disso, “smart beta precisa ter correlação muito baixa com fatores primários de risco ou dar exposição a esses fatores de risco a um preço atraente”. Nestor foca na necessidade de as estratégias Smart Beta serem “empiricamente robustas e executáveis”.
A diferença de ênfase é pequena, mas impacta a forma de aplicação de smart beta no mercado e seu papel exato parece instável. “Smart beta é diferente de gestão ativa?”, questionou Antonios. “Estamos usando smart beta para que nossos gestores de ativos tenham maior responsabilidade pelas taxas de retorno ou é algo que muda as características dos investimentos?”
Nestor ressaltou que, na renda fixa em especial, “os fatores macro são sobrepostos em termos de motivação dos retornos”. Para ele, smart beta envolve “capturar de forma sistemática e precisa muitos desses vetores fundamentais” para entender melhor o retorno total. A principal pergunta, segundo ele, é “o que você tenta obter quando faz isso, seja em termos de um ativo ou índice, e será que você pode capturar muitos desses vetores de risco de modo mais barato, se for este seu objetivo primário?”
Para Harper, smart beta vai “codificar” muitas das regras usadas quando se administra uma carteira. “Muitos gestores embutem viés estratégico com o tempo — suas próprias regras de cabeceira”, ele disse. “Diante do aumento dos desafios de liquidez, acho que vemos o desejo de vários gestores de gastarem mais tempo em transações de maior convicção”.
Fundos negociados em bolsa (ETFs) da categoria smart beta podem oferecer essa oportunidade, uma vez que podem focar nos elementos mais amplos da estratégia. “Acho que existe potencial no futuro para uso regular de smart beta juntamente com a gestão ativa porque essencialmente seria uma troca da intuição e do discernimento do gestor da carteira por uma intuição similar de smart beta.”
O impacto de smart beta no mercado de títulos pode ser lento, mas certamente já levou gestores a pensar de novas maneiras. Em última instância, pode ser crucial para entregar taxas de retorno razoáveis em um mercado instável.