Por Maria Tadeo.
As medidas do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, para impulsionar os preços começaram a funcionar. Agora, as 340 milhões de pessoas que vivem na zona do euro estão prestes a descobrir que a inflação não terá o mesmo efeito em toda parte.
O comandante do BCE introduziu repetidos pacotes nos últimos anos para estimular o aumento dos preços. No mês passado, a inflação chegou ao maior nível em mais de três anos. Os 19 países do bloco provavelmente descobrirão que o quadro levará a demandas por maiores salários em nações com mercados de trabalho apertados, enquanto países que ainda lidam com o desemprego resultante da recessão podem sofrer também com a corrosão de seu poder aquisitivo.
A situação pode prejudicar a recuperação da economia, puxada pelo gasto do consumidor e proporcionada pela energia barata, pela política monetária flexível e por condições de financiamento generosas. Famílias e empresas terão de se consolar com o fato de que a inflação dificilmente sairá de controle, o que significa que os juros baixos e as compras de ativos pelo BCE vão continuar por algum tempo.
“A nova tendência de alta da inflação tende a afetar a dinâmica de salários no médio prazo, mas de formas diferentes entre os países integrantes”, disse Maxime Sbaihi, economista da Bloomberg Intelligence, em Londres. “Na Alemanha, os sindicatos já levam isso em conta para exigir reajustes significativos de salários. O contrário acontece na Espanha, onde o desemprego elevado coloca os funcionários em posição bem mais fraca.”
Essas duas economias refletem as divergências na zona do euro.
À primeira vista, ambas estão crescendo de modo robusto, puxadas pelos gastos domésticos, enquanto o saldo comercial prejudica a atividade. A Alemanha cresceu 1,9 por cento no ano passado, enquanto a economia espanhola provavelmente se expandiu 3,3 por cento.
Mas a partir daí, a história muda. O nível de emprego na maior economia da Europa está em nível recorde e o desemprego é inferior à metade da taxa apurada na zona do euro, de 9,8 por cento. Já na Espanha, a taxa de desemprego está melhor do que no auge da crise, mas ainda roda perto de 19 por cento.
Exigências sindicais
Com a inflação na Alemanha em 1,7 por cento, os sindicatos têm uma plataforma para exigir salários maiores. O sindicato que representa os funcionários públicos pede reajuste de 6 por cento para aproximadamente 1 milhão de trabalhadores. Sindicatos trabalhistas dos setores de energia, alimentos e têxtil pedem pelo menos 4,5 por cento.
Tais aumentos produziriam os efeitos secundários desejados por Draghi e seus colegas. Na ata da última reunião de política monetária, o BCE ressaltou que há escopo para um mercado de trabalho mais saudável impactar as demandas salariais.
“O processo de negociação salarial tem estado bastante contido até agora, mas isso pode mudar quando os trabalhadores se derem conta de que os salários reais não estão aumentando ou que estão mesmo diminuindo”, afirmou o documento publicado na quinta-feira. “Desdobramentos no mercado de trabalho na zona do euro podem continuar sendo mais dinâmicos do que o esperado, diante de surpresas positivas recorrentes.”
A inflação na zona do euro ficou em 1,1 por cento nos 12 meses até dezembro e o núcleo do indicador em 0,9 por cento. O BCE tem como meta pouco menos de 2 por cento. Na quinta-feira, um integrante do Conselho Geral da instituição, François Villeroy de Galhau, afirmou que este objetivo ainda está distante.
“Algumas pessoas parecem preocupadas com a volta da inflação”, ele afirmou em seu discurso de início de ano a executivos do setor financeiro em Paris. “É um grande exagero.”
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