Por Felipe Marques e Peter Millard.
Investidores brasileiros estão migrando para Bahia. Não o ensolarado estado no nordeste brasileiro, mas um gestor de recursos homônimo que teve cerca de R$ 7,7 bilhões (US$ 1,98 bilhão) em captação líquida em seus dois principais fundos este ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. O montante o coloca entre os gestores de multimercado com maior volume de dinheiro novo em 2018.
“A equipe ficou mais experiente, a performance é melhor, a casa é mais conhecida e isso vai multiplicando, gerando uma captação exponencial. Hoje não captamos mais porque tomamos decisão interna de fechamento de alguns fundos, mas temos demanda fortíssima,” disse Gustavo Daibert, sócio responsável pelas estratégias de renda variável no Bahia Asset Management, em entrevista.
A empresa, que tem R$ 17,3 bilhões sob gestão, agora aposta em ações como nunca antes para recompensar os investidores. A estratégia segue a eleição de Jair Bolsonaro como o próximo presidente do Brasil, com a expectativa de que o capitão reformado do Exército cumprirá as promessas de disciplina fiscal e fará a muito adiada reforma da previdência.
O Bahia prefere ações sobre os demais ativos em seu principal fundo, mas o otimismo também está começando a atingir a moeda. Os gestores começaram a montar uma posição na valorização do real, que Marcelo Mendes, sócio responsável pela estratégia de renda fixa, diz estar barato nos níveis atuais.
“É algo que só começamos a fazer”, disse Mendes. “Estamos começando devagar porque tudo o que é barato pode ficar ainda mais barato, mas estamos vendo o mercado meio de um lado só no câmbio.”
Até agora, essa aposta não valeu a pena. O Bahia disse que perdeu dinheiro apostando no real, já que a moeda caiu 6,8% desde a eleição de outubro, com os investidores estrangeiros aumentando suas posições na desvalorização do ativo, enquanto os fundos locais ganham confiança no câmbio.
Investidores no exterior ainda vêem Bolsonaro “como um populista de direita”, disse Mendes, acrescentando que a reforma da Previdência se tornou “a mãe das reformas aos olhos dos estrangeiros”, e conseguir que a aprovação conquiste investidores relutantes de fora do país também ajudará a diferenciar Bolsonaro de Andrés Manuel Lopez Obrador, o primeiro presidente esquerdista do México em décadas, que tem tumultuado mercados após cancelar um aeroporto parcialmente construído na capital do país, levantando dúvidas sobre segurança jurídica.
Benefício da dúvida
“Investidores dedicados aos mercados emergentes sofreram muito este ano, com Argentina, Turquia e México”, disse Daibert. “Eles não estão dispostos a arriscar dar a Bolsonaro o benefício da dúvida”.
O Ibovespa subiu cerca de 14% este ano, um dos melhores desempenhos entre índices no mundo todo, e aprovar uma reforma da previdências pode levar a uma alta de mais de 30%, disse Daibert. Mesmo uma versão diluída poderia elevar o índice em 15%.
O principal multimercado da gestora, o Bahia AM Marau, está entre os melhores do país nos últimos cinco anos, com um retorno total anualizado de 15,2%, superando 97% dos pares segundo dados coletados pela Bloomberg.
Em ações, a gestora tem aumentado a posição em setor financeiro e agora tem o Banco do Brasil como principal ativo. É uma aposta que o governo de Bolsonaro cumprirá as promessas de melhor governança e privatização de ativos controlados pelo Estado. O Bahia também aposta em outros setores expostos ao consumo doméstico, como shoppings, ao mesmo tempo em que não gosta de empresas de serviços financeiros que não bancos.
Enquanto a atual posição estrutural do Bahia sobre as ações é a maior desde sempre, Daibert diz que há riscos de que o governo enfrente problemas ao tentar romper com a forma que se faz política no Brasil, como oferecer aos ministérios aliados para formar uma maioria no Congresso.
“Bolsonaro está tentando implementar um novo modelo de negociações entre os poderes Executivo e Legislativo. Se ele falhar, será muito complicado voltar atrás ”, disse ele.
Dinheiro novo
O grande volume de captação neste ano levou o Bahia a fechar seu carro-chefe para novos investimentos enquanto se adapta ao seu novo tamanho e tenta entender melhor o comportamento de seus novos clientes – alguns que nunca tinham investido em multimercados. O sucesso também faz parte de um boom nos fundos multimercados brasileiros, que se multiplicaram à medida que se popularizam produtos que antes eram restritos a indivíduos ricos e que os retornos fáceis em títulos do governo desaparecem em meio a taxas de juros mais baixas.
Mendes disse que o Bahia praticamente pode dobrar seus ativos, mas não tem pressa. A empresa tem 80 funcionários e fez uma pequena expansão no início de 2018, adicionando analistas para cobrir as moedas asiáticas e os mercados acionários globais.
Mesmo com o sucesso da empresa, Mendes, que se formou como engenheiro mecânico, tem passado grande parte do seu tempo focando nas coisas que poderiam dar errado. O livro que ele cita como sua leitura mais influente no ano passado é “Grandes erros: os melhores investidores e seus piores investimentos”, com relatos das principais falhas de investidores como Warren Buffett e Bill Ackman.
“Perder dinheiro é uma parte do que fazemos”, disse ele. “Eu chamo de doutorado caro: é doloroso, custa dinheiro, mas você tem que aprender alguma coisa com isso.”
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