Por Shruti Date Singh, Isis Almeida e Mario Parker.
Em meio à guerra comercial entre os EUA e a China, os produtores de soja dos EUA estão fazendo uma enorme aposta.
Em vez de vender a soja logo depois de colhê-la — como fazem em quase todas as safras, para pagar as contas –, eles preferiram guardá-la em silos, contêineres, caixas, bolsas, em qualquer lugar onde possam mantê-la segura e seca.
A esperança é que, nos próximos meses, as tensões comerciais diminuam e que a China, o principal mercado da oleaginosa, comece a comprar novamente dos agricultores americanos, elevando os preços deprimidos no processo. Um bushel de soja era vendido por apenas US$ 8,87 na sexta-feira. Oito meses atrás, antes que as tensões comerciais resultassem em tarifas, o preço era cerca de US$ 2 mais alto.
Os riscos são grandes. Embora a negociação de futuros indique preços mais altos no ano que vem, isso pode mudar dependendo das negociações comerciais e do aumento da oferta. Por outro lado, a colheita pode estragar. Soja não é milho e não se mantém tão bem quando armazenada. Se não for mantida totalmente seca, absorve a umidade rapidamente e apodrece, não pode mais ser utilizada e se torna nojenta.
“Fica com cheiro de animal atropelado na estrada”, disse Wayne Humphreys, um agricultor de Iowa, nos EUA. “Com a consistência de um purê de batata, lisa e mole.”
Recorde
O armazenamento ocorre exatamente quando a produção de soja está atingindo um recorde. Os produtores americanos estão tentando se recuperar, porque a receita agrícola global deve cair pela quarta vez em cinco anos, segundo as projeções. O apetite chinês pela soja, usada em tudo, da alimentação de suínos ao óleo de cozinha, era um ponto positivo. Mas com o início das tarifas, o volume de soja que o país importava dos EUA caiu muito, quase 90 por cento em setembro em relação ao ano passado.
Para muitos agricultores americanos não há mais remédio a não ser ficar com a colheita. Milhões de bushels não têm para onde ir. Os terminais de Portland, um importante ponto de exportação para a China no litoral dos EUA no Pacífico, rara vez recebem lances. As provisões são armazenadas em terminais e elevadores, mesmo depois de o tempo frio e úmido de Dakota do Norte ter impossibilitado a colheita em muitas plantações. Os estoques de soja do país devem mais do que dobrar, para cerca de 955 milhões de bushels até o fim deste ano-safra, de acordo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
O estado de Illinois, o maior estado produtor de soja dos EUA, pode ter o maior déficit de armazenamento e precisar de até 100 milhões de bushels para armazenamento de colheitas, disse Tim Brusnahan, analista da corretora de agricultura e consultoria Brock Associates.
Embora a produção de Illinois dependa menos da demanda chinesa, os atuais preços baixos fazem com que armazenar soja seja a melhor opção, disse Darrel Gingerich, vice-presidente da Gingerich Farms em Lovington, Illinois.
“Os mercados nos dizem que é para armazenar”, disse Gingerich. “Está apertado, muito apertado.”
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