Por Isis Almeida, Michael Hirtzer e Jen Skerritt.
A queda do petróleo mandou um recado aos agricultores: agora também precisam ser operadores de energia.
Agricultores se tornaram mais vulneráveis às oscilações dos preços de energia nas últimas décadas, já que países como EUA e Brasil passaram a exigir o uso de biocombustíveis. Cerca de 30% da safra de milho dos EUA é usada para a produção de etanol, enquanto usinas brasileiras chegam a transformar até 60% da cana para produzir o biocombustível. As plantações de palma da Ásia e culturas de colza, ou canola, da Europa dependem muito da demanda por biodiesel.
Com a pior queda do petróleo desde a Guerra do Golfo em 1991 e a propagação do coronavírus pelo mundo, os mercados agrícolas sentem o aperto. O açúcar perdeu 6,5%, o óleo de palma caiu 11% e a colza europeia registrou baixa de mais de 3%. As ações da produtora de etanol norte-americana Green Plains caíram 43%, a maior baixa desde o início dos registros em 2006. O preço das ações da gigante de fertilizantes Nutrien caiu para o nível mais baixo de todos os tempos.
“Desde que agricultores passaram a adotar e promover o etanol e o biodiesel, aumentaram seu vínculo com os preços de energia”, disse John C. Baize, consultor independente que assessora o Conselho de Exportação de Soja dos EUA. “Quando os preços de energia estavam altos, as cotações do milho e da soja também subiam. Agora, com o colapso dos preços do petróleo, as cotações das commodities também estão em baixa.”
A queda do petróleo – causada pela guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia – é o mais recente choque para mercados agrícolas já afetados pela demanda mais fraca devido à propagação do coronavírus, que mantém as pessoas em casa. Nas últimas décadas, os mercados tornaram-se mais interligados, e agricultores precisam estar atentos a tudo, desde o petróleo até o estado da economia global.
“O coronavírus e a queda no petróleo afetarão a demanda e a atividade econômica e isso pode ser perigoso”, disse Michael McDougall, diretor-gerente da Paragon Global Markets, em Nova York. “Os agricultores precisam estar cientes disso.”
As margens de etanol dos EUA foram esmagadas pelo petróleo mais barato, que torna o biocombustível menos competitivo.
“A destruição da demanda dos EUA pesa na mente de todos no momento”, disse Jordan Fife, trader de etanol doméstico da BioUrja Trading, em Houston.
Nem tudo é má notícia para os agricultores. Os preços das safras ainda estão relativamente bons em comparação com o petróleo, e os custos mais baixos de energia ajudarão produtores norte-americanos quando acionarem os tratores para semear a safra deste ano.
Chris Robinson, diretor-gerente de agricultura e commodities da TJM, em Chicago, aconselha clientes a aproveitar a queda do petróleo para fixar os preços do diesel. “No final das contas, esse é o lado positivo de ser um trader de energia/agricultor”, disse.