Banco central inglês se envolve em controvérsia por 'brexit'

Por Emma Charlton e Jill Ward.

Mark Carney foi acusado de comprometer a credibilidade do Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês) no debate sobre a União Europeia ao ser submetido a um duro interrogatório dos parlamentares britânicos.

O presidente do BOE passou meses tentando evitar essa disputa política — tarefa que o parlamentar Andrew Tyrie comparou ao desarme de uma bomba –, mas alguns membros do Comitê do Tesouro disseram que os comunicados do BOE, como um relatório de outubro e uma carta publicada na terça-feira, apoiavam a proposta do governo de manter o Reino Unido no bloco. Eles questionaram se o banco central não teria exagerado os aspectos positivos.

“A linguagem que usamos no relatório e na carta é cuidadosa”, disse Carney ao painel multipartidário, nesta terça-feira. “Para dizer o óbvio, as questões econômicas são questões importantes frente à decisão maior que o povo do Reino Unido precisa tomar”.

A tensão é grande antes do referendo. O Goldman Sachs e a BlackRock estão entre os que alertaram que a votação de 23 de junho coloca em risco o comércio e os investimentos, e os economistas dizem que é quase impossível quantificar todas as implicações de uma possível saída.

Discussão nervosa

A abertura da audiência sobre os custos e benefícios econômicos e financeiros da adesão à UE foi dominada por uma discussão nervosa entre Carney e o parlamentar pró-brexit Jacob Rees-Mogg, do Partido Conservador, da situação.

“Você está usando as declarações padronizadas do grupo pró-União Europeia”, disse Rees-Mogg ao presidente do banco central. “Não é digno do BOE realizar declarações especulativas pró-UE”.

“Eu não vou permitir essa posição”, disse Carney. Ele defendeu a postura independente do BOE dizendo que os problemas econômicos não são a única coisa levada em conta e que o banco central não dará nenhuma recomendação sobre o assunto. Depois, quando Rees-Mogg disse que Carney não estava defendendo o “desprendimento olímpico” do BOE da política, Carney o acusou de ter “memória seletiva” em relação ao seu depoimento.

Na publicação de outubro, o BOE considerou o impacto da UE sobre sua função, mas não fez uma análise completa dos méritos nem das implicações de uma possível saída. Embora Carney novamente não tenha oferecido uma avaliação detalhada na terça-feira, ele disse que a “brexit” provavelmente enfraqueceria a libra, elevaria os yields e minaria os investimentos. Também “não há dúvida”, disse ele, de que algumas empresas de serviços financeiros poderiam sair de Londres.

Nenhuma recomendação

O parlamentar John Mann, do Partido Trabalhista, de oposição, questionou se o relatório do BOE não estava muito focado nas virtudes da adesão, algo negado pelo presidente do banco central.

“Não consideramos que a abertura seja exclusivamente boa”, disse Carney. A abertura contribui para o dinamismo, o comércio e o investimento estrangeiro direto, mas também torna a economia “mais exposta a choques”.

O BOE não deu detalhes de seu plano de contingência para o caso de uma “brexit”, mas disse na segunda-feira que disponibilizará liquidez extra para os bancos antes do referendo. Três operações compromissadas indexadas adicionais e de longo prazo serão realizadas nas semanas próximas à votação.

Carney disse que a decisão pela saída na votação poderia criar pressões sobre a inflação em ambas as direções, mas que o banco central seria capaz de manter a estabilidade dos preços independentemente do resultado.

“Poderia haver níveis mais baixos de atividade por causa do grau de incerteza, o que poderia afetar o investimento e o gasto das famílias”, disse ele. “De forma recíproca, poderia haver oscilações na taxa de câmbio que elevariam a inflação por meio da repercussão normal e o banco central teria que avaliar essas forças e sua persistência provável”.

Carney testemunhou juntamente com seu vice-presidente, Jon Cunliffe, que disse aos parlamentares que o acordo do primeiro-ministro David Cameron para reformar a relação com a UE era “muito significativo e muito material”.

O presidente do BOE negou que seus comentários tenham sido influenciados por Cameron ou por qualquer integrante do governo.

“Não somos influenciados por ninguém”, disse ele. “Não faria nenhuma diferença se eles tentassem”.

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