Banco Popular da Espanha sofre para se desfazer de imóveis

Por Macarena Munoz e Sharon Smyth.

No alto de uma colina no sul da Espanha há um conjunto de blocos de apartamentos de cimento rodeados por jardins sujos. Construído durante os anos dourados da bolha imobiliária do país, o empreendimento estava misteriosamente parado em uma manhã recente de junho.

O Banco Popular Español, que assumiu a propriedade com execução de hipoteca, está oferecendo apartamentos por até 147.000 euros (US$ 165.100). Fátima Smanri, uma moradora, mostra ceticismo. O complexo fechado, chamado Hacienda Casares, fica longe do mar e a quase 100 quilômetros do aeroporto espanhol mais próximo.

“Ninguém vai pagar esse valor para morar aqui”, disse Smanri, de 43 anos, mãe de três filhos, que diz que aluga um apartamento no empreendimento por 200 euros ao mês. “Não há absolutamente nada. Você precisa de carro até para buscar o pão e à noite a subida da ladeira fica completamente escura”.

Quase uma década após o colapso imobiliário da Espanha, os empréstimos inadimplentes e as execuções de hipotecas continuam sendo um fardo para os bancos do país, especialmente o Banco Popular. No mês passado, o banco com sede em Madri anunciou um aumento de capital de 2,5 bilhões de euros para cobrir prejuízos relacionados a propriedades, surpreendendo os investidores e gerando a preocupação de que os bancos de outros países do sul da Europa possam seguir o exemplo ao lidar com empréstimos em atraso e taxas de juros em mínimas recorde.

As ações bancárias da Europa caíram neste ano, derrubando o índice Euro Stoxx Banks em 30 por cento.

Segunda vez

O aumento de capital do Banco Popular, o segundo em menos de quatro anos, também lançou dúvidas sobre o futuro do presidente do conselho, Ángel Ron, que administra o banco há mais de uma década. Os críticos culpam Ron, de 53 anos, por liderar uma incursão no setor imobiliário antes da crise financeira e por demorar demais para efetuar a limpeza depois disso.

O banco também alertou que poderá registrar prejuízo anual e suspender os dividendos devido a possíveis provisões de até 4,7 bilhões de euros em 2016. Trata-se de uma reviravolta em relação aos anos 1990, quando o Banco Popular foi muitas vezes classificado entre os bancos mais lucrativos do mundo pela agência de classificação IBCA e os analistas o criticavam por manter muito capital, em vez de pouco demais.

Em declaração a jornalistas em Santander, na Espanha, na quarta-feira, Ron disse que não foi pressionado nem pelos investidores, nem pelos membros do conselho do banco a deixar o cargo.

O Popular foi mais lento que seus pares para se desfazer de ativos. Os bancos espanhóis venderam 40 bilhões de euros em imóveis e empréstimos desde 2014, segundo a KPMG. O CaixaBank, o Banco de Sabadell e o Bankia foram os mais ativos, com um total de 17 bilhões de euros em vendas, disse a consultoria.

O Banco Popular procura vender 180 unidades do complexo Hacienda Casares como parte de um portfólio de 4 bilhões de euros em ativos com execução hipotecária, disseram duas pessoas com conhecimento dos planos, que pediram anonimato. No total, o banco busca dispor de 15,6 bilhões de euros em ativos ligados a imóveis até 2018 como parte de uma reformulação apresentada no mês passado.

“O volume que estão tentando vender e pelo fato de terem chegado tão tarde à festa, eles não conseguirão mudar essa situação”, disse Fernando Rodríguez de Acuña Martínez, diretor-geral da R.R. de Acuña & Asociados, firma de consultoria imobiliária com sede em Madri. “Todos os grandes investidores já assumiram suas posições e o Popular simplesmente esperou demais”.

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