Bancos centrais ainda têm alguns truques na manga

Por Simon Kennedy.

Se uma linha de raciocínio sobre a queda das ações dos bancos é que a política monetária perdeu seu impacto, os investidores fariam bem em lembrar de uma lei do investimento moderno: “não se oponha ao Fed”.

Com a semana chegando ao fim, alguns economistas e estrategistas de Wall Street dizem que as autoridades monetárias têm muitos truques na manga – mesmo depois de mais de 635 cortes nas taxas de juros desde a crise financeira, de acordo com cálculos do Bank of America, e com os bancos centrais sentados atualmente sobre mais de US$ 23 trilhões em ativos.

“Em diversas oportunidades, os bancos centrais foram mais ousados e inventivos do que os mercados de ativos admitem”, disse Stephen Englander, diretor global de estratégia monetária para o G10 do Citigroup em Nova York, em um relatório para os clientes no fim da quinta-feira. “O pessimismo não se justifica”.

Sua proposta é que as autoridades concentrem a política mais em aumentar a demanda do que em simplesmente incrementar a liquidez na esperança de que consumidores e empresas descubram que precisam dela.

Embora ache que seria possível conseguir isso através do crédito direcionado, ele defende o que chama de “fusão fria”: os políticos reduziriam os impostos e aumentariam os gastos e os bancos centrais cobriram o aumento resultante nos empréstimos comprando ainda mais bonds.

“A próxima geração de ferramentas de política provavelmente será elaborada para atuar de forma mais direta sobre a demanda final, usando uma inflação persistentemente abaixo da meta como alavancagem para justificar políticas que, do contrário, seriam condenáveis”, disse Englander.

Dentro da mesma linha, Hans Redeker, diretor de estratégia cambial global do Morgan Stanley em Londres, afirma que é hora de que os bancos centrais comecem a usar a flexibilização quantitativa para comprar ativos provados depois de ter se concentrado anteriormente na dívida pública.

‘Ferramentas monetárias’

“Eu analisaria o próximo passo das ferramentas monetárias”, disse Redeker em uma entrevista à Bloomberg Television. “Precisamos combater à deficiência da demanda”.

Os detratores dizem que essa é a fonte do problema. A compra de bonds e os cortes dos juros não podem fazer muito mais para revigorar a economia real. E os mercados, dizem, agora admitem isso.

Parte do sofrimento dos mercados na semana passada derivou do temor de que as taxas de juros negativas, cada vez mais adotadas por instituições como o Banco do Japão e o Banco Central Europeu, causem mais estragos do que benefícios porque prejudicam os lucros dos bancos.

Isso não impediu que economistas do JPMorgan Chase Co., encabeçados por Bruce Kasman, sugerissem que os bancos centrais poderiam fazer cortes muito mais profundos sem nenhum efeito colateral significativo caso também limitem as reservas que seriam afetadas. O Citigroup disse ontem que Israel, a República Tcheca, a Noruega e talvez o Canadá poderiam entrar para o grupo de países com taxas negativas nos próximos anos.

Themos Fiotakis, um dos diretores de estratégia cambial e de juros do UBS Group, também calcula que a flexibilização quantitativa anterior continua elevando as ações e os bonds e não vai desaparecer em breve.

Suas estimativas, que aparecem em um relatório enviado aos clientes na quarta-feira, mostram que a flexibilização e os comunicados dos bancos centrais são responsáveis por mais de metade da queda dos yields de bonds e por 60 por cento do aumento do valor das empresas nas quatro principais economias industriais desde 2008.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.