Bancos centrais da Europa transferem atenção à política

Por Jeff Black e Jillian Ward.

Após um ano de tentativas renovadas para ajudar suas economias, os bancos centrais da Europa estão se retirando de cena para assistir à comoção política de 2017.

Nos EUA, o Federal Reserve acelerou o ciclo de aumento de juros. Já o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra e o Banco Nacional Suíço sinalizaram na última semana que preferem aguardar até que o tumulto na região — incluindo a saída do Reino Unido da União Europeia e a ascensão do populismo — se cristalize para que a direção da política monetária seja então definida.

“Eles serão espectadores”, disse Andrew Goodwin, economista da Oxford Economics, acrescentando que o BCE vai enxugar gelo por um bom tempo e que o banco central britânico enfrentará obstáculos a qualquer movimentação. “Vão só identificar fatores de risco e manter a situação estável.”

Oito anos depois de a crise financeira colocar os bancos centrais em velocidade máxima, essas instituições agora precisam sentar e esperar a política definir a nova ordem mundial. O comandante do Banco da Inglaterra, Mark Carney, está cimentando uma postura “neutra” porque o impacto do Brexit ainda não é claro. No BCE, Mario Draghi empurrou a decisão final sobre o encerramento do afrouxamento quantitativo para depois da sequência de eleições arriscadas que serão realizadas na zona do euro.

Altas de juros nos EUA

É um contraste com o que ocorre nos EUA, onde o Fed subiu os juros nesta semana e sinalizou mais três acréscimos de 0,25 ponto percentual no ano que vem. De acordo com Janet Yellen, a comandante da instituição, a economia está forte o bastante para suportar custos maiores de captação, a despeito da situação política que vem se delineando após a eleição de Donald Trump à presidência no mês passado.

“A diferença fundamental para o Fed é que o ciclo econômico está bem mais avançado”, disse Grant Lewis, economista da Daiwa Capital Markets, em Londres, que já trabalhou no Tesouro britânico. “O desemprego está bem menor, há bem menos capacidade ociosa, as pressões inflacionárias são maiores.”

Na quinta-feira, o banco central suíço aproveitou a calmaria após a elevação de juros pelo Fed para listar os riscos políticos que poderiam afetar a defesa do franco, mas manteve sua política inalterada. A instituição comandada por Thomas Jordan alertou sobre uma “multidão de incertezas políticas” que ameaçam contagiar a economia.

Também na quinta, o Banco da Inglaterra, que em agosto cortou a taxa básica de juros para o menor nível histórico, repetiu que seu próximo movimento pode ser de subir ou cortar os juros. Talvez seja a última oportunidade da instituição de alterar a política monetária antes do início das negociações para o Brexit, em março.

Mesma realidade política

Os três bancos centrais enfrentam problemas diferentes. Na zona do euro, a inflação está baixa demais. No Reino Unido, o risco é de piora do crescimento econômico e inflação elevada. Na Suíça, a moeda que é porto seguro pode se apreciar demais quando eventos internacionais estressarem os investidores. No entanto, a realidade política que deve determinar suas decisões é a mesma.

Alemanha, França e Holanda realizarão eleições gerais no ano que vem e candidatos populistas de diversas vertentes estão tirando espaço de partidos estabelecidos.

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