Bancos centrais globais logo começarão a remar na mesma direção

Por Jeanna Smialek, Toru Fujioka e Paul Gordon.

Os principais bancos centrais ainda não estão agindo em harmonia, mas pelo menos estão começando a ficar menos dissonantes.

Na quinta-feira, o Banco Central Europeu descartou mais cortes nos juros, sinalizando que se move cautelosamente na direção da saída de seu programa de estímulos. No Banco da Inglaterra, as autoridades estudam retirar gradualmente as medidas de acomodação nos próximos anos, embora esta avaliação precise agora levar em conta o resultado perturbador das últimas eleições no Reino Unido. O Banco do Japão não tem intenção de retirar estímulos tão cedo, mas há relatos de que vai calibrar a comunicação no sentido de reconhecer que estuda como lidar com uma eventual mudança de postura.

O Federal Reserve está bem adiante deles. A expectativa é que o banco central dos EUA suba os juros pela quarta vez neste ciclo na reunião dos dias 13 e 14 de junho. A instituição também está mapeando um plano para reduzir seu balanço patrimonial de US$ 4,5 trilhões — processo que está administrando com cuidado para não abalar os mercados globais. Já a China tem permitido aperto do mercado de juros de alta liquidez, dentro do esforço para enxugar a alavancagem de determinados segmentos do sistema financeiro.

Esses sinais iniciais de sincronia chegam junto com a melhora do crescimento global. Os índices de inflação têm ficado abaixo de suas respectivas metas, mas a ociosidade no mercado de trabalho está diminuindo em várias partes do mundo. O PIB mundial deve se expandir 3,5 por cento neste ano, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional, vindo de 3,1 por cento em
2016.

A mudança nos bancos centrais tem sido lenta e sutil, mas representa uma grande virada.

“Trata-se da mudança de uma situação na qual os bancos centrais estavam basicamente enfiando o pé no acelerador, dando o máximo de estímulo monetário imaginável”, disse Jacob Funk Kirkegaard, integrante sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional, em Washington. “Agora, os bancos centrais dos países avançados estão reagindo a uma economia em recuperação.”

A mudança também é boa notícia para esses países, por refletir que a confiança dos empresários está melhorando e há mais gente trabalhando, de modo que afasta a perspectiva de outra fase de piora econômica.

A economia japonesa registrou crescimento por cinco trimestres consecutivos — o melhor desempenho em uma década — e a taxa de desemprego caiu para um patamar que só se via mais de 20 anos atrás.

Na zona do euro, o presidente do BCE, Mario Draghi, deu um pequeno passo na direção da saída ao afirmar, na quinta-feira, que os riscos ao crescimento econômico agora estão “amplamente equilibrados” e que outro corte nos juros não estava em consideração.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra afirmou, em 11 de maio, que, se o crescimento se mantiver dentro do esperado, “então a política monetária precisará ser apertada em magnitude relativamente maior ao longo do período de projeções do que a trajetória de elevação muito suave implícita na curva de juros do mercado”.

Esse entendimento presumia saída também “suave” do Reino Unido da União Europeia, mas esta hipótese pode não se concretizar se as negociações para o Brexit se complicarem. O quadro ficou ainda mais incerto depois que as eleições convocadas subitamente pela primeira-ministra Theresa May resultaram em um parlamento no qual nenhum partido tem maioria.

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