Por Richard Miller com a colaboração de Enda Curran, Michelle Jamrisko, Jill Ward e Alex Tanzi.
Os principais bancos centrais do mundo avisaram que a festa está acabando.
O americano Federal Reserve – que vem elevando a taxa básica de juros desde 2015 – dá neste mês mais um passo no sentido da normalização da política monetária, ao iniciar a redução de seu balanço patrimonial de US$4,5 trilhões. Para o Banco Central Europeu, a expectativa é que apresente em breve o plano para diminuir as compras de ativos. Possivelmente, o Banco da Inglaterra aumentará os juros em novembro.
O Banco do Canadá já elevou os custos de captação.
O objetivo das autoridades monetárias — reunidas em Washington nesta semana para o encontro do Fundo Monetário Internacional — é reduzir o apoio sem prejudicar a economia global, ao chacoalhar mercados financeiros que foram embalados durante anos pela abundância monetária.
É o “fim de uma era”, declarou Ray Dalio, responsável pelo maior fundo de hedge do mundo, na Bridgewater Associates, em relatório a clientes em 21 de setembro. A economia mundial e os mercados estão “adentrando um período mais perigoso”, ele afirmou, de acordo com um gestor de recursos que teve acesso ao texto.
O que aumenta a dificuldade é a incerteza sobre quem estará no comando do banco central mais poderoso do planeta. O mandato da presidente Janet Yellen termina em fevereiro e o vice dela, Stanley Fischer, está prestes a deixar o cargo.
“Há pelo menos o risco alguma queda nos mercados” à medida que os bancos centrais retiram o estímulo quantitativo, disse Joachim Fels, conselheiro sobre a economia global da Pacific Investment Management Co. (Pimco).
Por ora, parece que a economia vai bem. O trimestre passado foi o melhor desde 2010 em termos da expansão global e o impulso subjacente parece forte, de acordo com relatório de economistas do JPMorgan Chase, publicado em 29 de setembro.
“A sensação é que a economia global está próxima de uma virada sincronizada para cima” pela primeira vez em anos, disse David Stockton, que foi diretor do Fed e hoje atua no Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.
Os bancos centrais estão em movimento embora os índices de inflação estejam abaixo de suas respectivas metas. O economista-chefe da Bloomberg Intelligence, Michael McDonough, calcula que as compras líquidas de ativos pelos bancos centrais diminuirão de um ritmo mensal de US$ 131 bilhões em setembro para US$ 33 bilhões no final de 2018.
Os juros também estão subindo em alguns países. O Fed e o Banco do Canadá elevaram as taxas duas vezes em 2017 e o primeiro sinalizou mais um acréscimo antes do fim do ano nos EUA.
Sem aperto
Claro que nem todos os bancos centrais estão apertando as condições monetárias.
O Banco Popular da China mantém a taxa básica de juros no menor nível em registro e trabalha para diminuir a expansão do crédito sem prejudicar a economia. O Japão está longe de qualquer aperto na oferta monetária. Os juros na Austrália e na Coreia do Sul também estão em seus menores patamares históricos.
“Não precisamos subir os juros somente porque estão subindo no exterior”, disse o comandante do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, no mês passado.
Quem aperta as condições monetárias demonstra cautela.
O plano do Fed de diminuição do balanço patrimonial está se desdobrando há meses e começa com reduções de apenas US$ 10 bilhões por mês. Já o presidente do BCE, Mario Draghi, enfatizou que qualquer mudança será gradual e que vai garantir a permanência de suporte monetário significativo.
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