Bancos fogem da corrida para construção de mais minas de lítio

Por David Stringer e Mariko Ishikawa

Após fechar acordo com uma fabricante de baterias chinesa em 2016, James Brown pensou que os bancos ficariam ansiosos para financiar sua nova mina de lítio. A Altura Mining corria para enviar a matéria-prima da Austrália para o maior mercado de veículos elétricos do mundo em meio ao aumento da demanda.

Em vez disso, embora os preços do lítio tenham continuado subindo, Brown passou um feriado de Natal telefonando para os bancos e viajou pelo mundo para levantar o dinheiro. Finalmente, a Castlelake, uma firma de private-equity com sede em Minneapolis, nos EUA, ajudou a organizar US$ 110 milhões em títulos. Mas havia um senão: a taxa de juros elevada, de 15 por cento, quase o dobro do que os bancos normalmente cobram para empreendimentos de mineração mais convencionais.

“Vínhamos tentando com bancos que conhecíamos havia anos”, disse Brown, diretor-gerente da Altura, que tinha trabalhado 22 anos na produtora de carvão New Hope. “Eles diziam: Pessoal, adoramos tudo, mas acontece que não temos autorização (para o lítio). Se vocês tivessem nos abordado com carvão, ouro ou minério de ferro, não teriam motivos para se preocupar.”

Apesar das projeções otimistas para a demanda global — especialmente com a aceleração da produção de veículos elétricos –, o lítio pode ter um problema de financiamento. Os bancos estão cautelosos, citando todo tipo de motivo, desde o histórico ruim do setor na entrega dos primeiros projetos até a falta de clareza a respeito de um mercado pequeno e obscuro. Sem mais investimentos, a oferta da commodity pode continuar restrita, o que sustentaria um boom que já fez os preços triplicarem desde 2015.

As empresas que exploram o lítio precisarão investir cerca de US$ 12 bilhões para multiplicar a produção por cinco até 2025 e acompanhar o ritmo do crescente apetite mundial por baterias, segundo a Galaxy Resources, uma produtora australiana que busca construir novas operações na Argentina e no Canadá. As desenvolvedoras afirmam que até o momento os projetos não estão recebendo financiamento com rapidez suficiente para dar esse salto.

As produtoras de baterias e as fabricantes de automóveis “não têm absolutamente nenhuma ideia do tempo necessário para colocar um projeto de mineração em operação”, disse Guy Bourassa, CEO da Nemaska Lithium, que trabalhou 18 meses para montar um complexo programa de financiamento de 1,1 bilhão de dólares canadenses (US$ 830 milhões) para uma mina e uma unidade de processamento no Quebec. “Vai haver um grande problema — isso será um obstáculo” para aumentar oferta, disse.

A “incapacidade de acesso a recursos tradicionais tem atrasado o desenvolvimento do setor”, disse Richard Seville, CEO da Orocobre, com sede em Brisbane, na Austrália, que iniciou as vendas de lítio em 2015 a partir do norte da Argentina e teve dificuldades para ampliar a produção. “Esses projetos não são fáceis — por isso os bancos simplesmente não querem participar.”

A eletrificação da frota mundial de veículos exigirá enormes aportes para novas minas e o financiamento continuará sendo um desafio para as empresas menores, segundoBourassa.

A Volkswagen, por si só, planeja investir cerca de 50 bilhões de euros (US$ 58 bilhões) em baterias para construir versões elétricas de 300 modelos. “Imagine quantas toneladas de sal de lítio serão necessárias para fabricar essas baterias”, disse Bourassa.

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