Por Cristiane Lucchesi, Felipe Marques e Pablo Gonzalez.
Os bancos líderes na emissão de títulos de dívida de empresas no mercado interno do Brasil esperam outro ano recorde, impulsionado pelos juros baixos, pelas políticas favoráveis ao mercado do novo presidente Jair Bolsonaro e pelo menor desembolso de empréstimos pelo BNDES.
As emissões podem crescer até 15 porcento este ano, para R$ 113 bilhões, após o recorde de R$ 98 bilhões no ano passado, disse Bruno Boetger, diretor executivo responsável pelo banco corporativo e de investimento no Bradesco. As emissões de títulos de empresas brasileiras nos mercados internacionais caíram 54 porcento no ano passado, para US$ 14,2 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Investidores pessoa física primeiro foram para os fundos multimercado e agora estão migrando gradualmente para fundos de crédito, e esses fundos vão aumentar seu prazo médio e começar a tomar diferentes tipos de riscos”, disse Joao De Biase, diretor executivo responsável pelo banco corporativo e de investimento do Itaú Unibanco Holding. Empresas que antes emitiam principalmente títulos no mercado externo, incluindo aquelas que têm receita em dólares, estão optando pela venda de papéis de dívida local, pois essas transações são hoje mais baratas, mesmo considerando o custo de um swap de volta para dólar, disse De Biase.
As crescentes emissões de títulos de dívida locais são uma das maneiras pelas quais as empresas estão se preparando para financiar planos de expansão, refletindo expectativas de que o crescimento do Brasil está pronto para acelerar sob a administração de Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército, depois de mais de uma década de lideranças de esquerda. Em outro voto de confiança, os investidores em títulos da dívida estão cada vez mais dispostos a esperar mais tempo antes que o principal seja pago.
Um exemplo: a Petrobras no mês passado emitiu R$ 3,6 bilhões de dívida local com vencimentos de até 10 anos, um prazo mais comum nos mercados internacionais e mais do que o triplo do usual em 2016, segundo Felipe Wilberg, responsável por renda fixa e produtos estruturados no Banco Itaú BBA. Os títulos tiveram demanda quatro vezes maior do que a oferta.
“O mercado doméstico cresceu a um ponto em que há transações com vencimentos mais longos, muitas com mais de R$ 1 bilhão, títulos de infraestrutura, papéis de alto rendimento e muitos fundos de crédito estão sendo criados – fundos grandes”, disse Wilberg.
A redução dos desembolsos do BNDES, controlado pelo Estado, também deixou mais espaço para transações no mercado de capitais. O banco forneceu menos de R$ 70 bilhões em crédito no ano passado, em comparação com o recorde de R$ 190 bilhões em 2013, com o objetivo de acabar com empréstimos subsidiados para empresas que não precisam deles.
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