Bancos perdem milhões em empréstimos com commodities falsas

Por Mark Burton.

Apesar da magia da tecnologia de ponta nos mercados financeiros modernos, existe um canto do mundo das commodities que ainda depende quase completamente do papel impresso – o que o torna um alvo fácil para os criminosos.

Compradores e vendedores de metais básicos como o cobre, o alumínio e o níquel utilizam documentos conhecidos como recibos de depósito para provar que todos os quilos envolvidos em uma transação realmente existem e quem é dono deles. Os recibos, provenientes de uma longa lista de emissores que muitas vezes os selam com hologramas e códigos secretos, se transformaram no pilar dos empréstimos bancários com garantia do metal.

Mas, como a maioria dos papéis, os recibos de depósito podem ser falsificados, e há indícios de que mais credores estão sendo roubados por criminosos que exploram as fraquezas no que as empresas de commodities chamam de financiamento de transações. Pela segunda vez desde 2014, alguns bancos estão sofrendo perdas de milhões de dólares após serem enganados ao fazer empréstimos com garantia de bens que não existiam.

“É um problema generalizado”, disse John Barlow, sócio da Holman Fenwick Willan que assessora seguradoras de bancos sobre riscos incluindo financiamento de transações. “Existe um risco inerente ao fazer transações comerciais dessa forma e os bancos têm que escolher entre aceitar esse risco ou reestruturar completamente a maneira em que o setor opera”, disse ele em entrevista por telefone de Dubai.

Riscos

Empréstimos com garantias de commodities guardadas em um depósito em algum lugar é um negócio cotidiano para os bancos envolvidos no financiamento de transações, um setor de US$ 4 trilhões que abrange de tudo, de commodities e logística até o transporte marítimo. Produtores e traders usam as transações como forma rápida de obter dinheiro comprometendo temporariamente seus estoques. Considerando o estoque global exposto, a ocorrência de fraudes continua sendo relativamente rara.

No entanto, os recibos de depósito são um alvo predileto de fraudadores de commodities. O credor francês Natixis e o Australia & New Zealand Banking Group, com sede em Melbourne, Austrália, estão enfrentando perdas por empréstimos após descobrirem documentos falsos utilizados para certificar o níquel armazenado em depósitos asiáticos da Access World, uma subsidiária da Glencore. As transações envolveram US$ 305 milhões para o ANZ e US$ 32 milhões para o Natixis, segundo apresentações feitas na Justiça neste ano.

Fraudes
Não é a primeira vez que bancos são enganados por uma grande fraude financeira em commodities. Em 2014, o Standard Chartered, o Citigroup e o Standard Bank Group divulgaram quase US$ 648 milhões em fraudes com cobre, alumínio e alumina armazenados no porto chinês de Qingdao que tinham sido usados para aumentar o financiamento muitas vezes.

Desde então, bancos e depósitos tomaram medidas para limitar falsificações, mas o uso de documentação em papel faz com que o negócio continue tendo um risco inerente, disse Barlow.

“O risco sempre está presente e com o tempo o setor se adaptou adotando controles e procedimentos para controlar a fraude”, disse por e-mail Craig Glendinning, vice-presidente sênior da Marsh. “Contudo, agora estamos vendo um forte aumento da frequência e da gravidade de fraudes com documentos.”

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