Bancos portugueses seguem na corda bamba após todos estes anos

Por Anabela Reis.

Apesar de todo o capital que estão levantando, os bancos portugueses ainda não estão fora de perigo.

O Banco Comercial Português, maior banco de capital aberto do país em ativos, levantou na semana passada 1,3 bilhão de euros (US$ 1,4 bilhão) em capital, enquanto o banco estatal Caixa Geral de Depósitos deverá receber o restante de sua ajuda de capital de 5 bilhões de euros a partir de março. Enquanto isso, o Novo Banco, que surgiu a partir da divisão do Banco Espírito Santo, ainda carrega um aviso de “vende-se” mais de dois anos depois de ser colocado no mercado.

O setor bancário do país continua cambaleando quase três anos após Portugal deixar seu resgate internacional. O crédito em risco nos bancos portugueses, que somava 32 bilhões de euros no fim de 2015, ficou estagnado em cerca de 12 por cento do total nos últimos dois anos. Isso depois de os oito maiores bancos de Portugal levantarem mais de 26 bilhões de euros em capital de 2008 a 2014, incluindo a ajuda estatal durante o auxílio internacional ao país e o resgate do Banco Espírito Santo, segundo o banco central.

“Estamos em uma situação na qual ainda lidamos com os mesmos problemas que tínhamos anos atrás, relacionados à correção dos balanços dos bancos e à baixa contábil de empréstimos inadimplentes aos níveis certos”, disse Benjie Creelan-Sandford, analista bancário do Jefferies Group.

Mercados nervosos

As dificuldades do setor bancário pesaram sobre a dívida soberana do país e o rendimento dos títulos de 10 anos de Portugal tocaram o nível mais alto em um ano na segunda-feira.

Não ajudou o fato de o primeiro-ministro António Costa, que ainda não atingiu a meta estabelecida no ano passado de acabar com os problemas que penalizam o sistema bancário, ter sugerido que poderia nacionalizar o Novo Banco se as condições de venda fossem desfavoráveis. O governo, altamente endividado, também disse que poderia seguir o exemplo do fundo de resgate bancário italiano.

“Qualquer solução para o setor financeiro e seu impacto no balanço do governo serão observados atentamente”, disse Federico Barriga, diretor de classificação soberana da Fitch Ratings. Portugal, cuja classificação junk foi reafirmada pela Fitch na sexta-feira, é um dos países mais endividados do mundo, disse ele.

O primeiro-ministro Costa assegurou ao Parlamento, na quarta-feira, que seu governo estava trabalhando no assunto. “O que sabemos é que não há nenhum problema novo” no sistema financeiro “e que vários problemas antigos foram resolvidos ou estão em processo de serem resolvidos”, disse ele.

Embora os aumentos de capital do Banco Comercial e da Caixa Geral aliviem um pouco a pressão, a baixa geração de capital interna e a má qualidade dos ativos ainda preocupam, disse Roger Turro, diretor para bancos da Fitch Ratings, em Lisboa, em 26 de janeiro.

“Nesse contexto incerto, e considerando a história dos bancos portugueses, acho que ainda não é hora de os investidores internacionais voltarem para Portugal”, disse Diogo Teixeira, CEO da Optimize Investment Partners, firma com sede em Lisboa que gerencia 130 milhões de euros e não possui investimentos em bancos portugueses ou italianos. “Os bancos precisam provar, trimestre a trimestre, que podem ser rentáveis” antes de isso acontecer.

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