Bancos sentem falta dos honorários que recebiam quando os mercados emergentes não eram vítimas da volatilidade

Por Lianting Tu e Christopher Langner.

A vida está ficando mais difícil para os bancos internacionais de investimento porque alguns dos negócios que mais dão dinheiro no mundo dos bonds estão se tornando escassos.

As empresas com notas abaixo do grau de investimento de mercados emergentes emitiram um total global de US$ 5,5 bilhões em notas em moeda americana até esta altura do trimestre, o que as coloca a caminho do menor valor desde os três últimos meses de 2011, segundo dados compilados pela Bloomberg. Essa redução poderá diminuir os ganhos com subscrição de dívidas, que no Credit Suisse Group AG — maior organizador de dívidas de alto rendimento dos mercados emergentes — caíram 16 por cento no primeiro semestre.

Da China ao Brasil, passando pela Rússia e o México, as empresas estão se afastando dos mercados offshore em meio à aversão ao risco e a disputas políticas que empurraram alguns cupons para o patamar de dois dígitos. As firmas que continuaram vendendo títulos internacionais, em sua maioria blue chips, são muito menos lucrativas para o serviço. As tarifas de subscrição para as empresas com grau de investimento giram em torno de 0,433 por cento em média, contra 0,865 por cento entre as empresas com yields altos.

“Eu posso imaginar que são necessários menos banqueiros especializados em altos rendimentos”, disse Florian Schmidt, chefe de mercados de capitais de dívidas da SC Lowy Financial (HK) Ltd. em Hong Kong. Isso significará “menos trabalho na assessoria de classificações, terá impacto nos advogados, com certeza causará impacto em todos os ramos profissionais. Quem estiver envolvido em atividade primária terá tempos muito difíceis pela frente”.

Os bancos internacionais de investimento poderão registrar uma queda de 19 por cento na receita no terceiro trimestre em um momento em que a volatilidade torna o fechamento de acordos mais difícil, escreveram analistas do JPMorgan Chase Co. em um relatório no dia 3 de setembro.

No Credit Suisse, a queda de 16 por cento nas tarifas de subscrição de dívidas contrasta com um declínio de 1 por cento nas tarifas de assessoria e de outras atividades nos seis primeiros meses de 2015 na comparação com o mesmo período de 2014. As tarifas de investment-banking para vendas de dívidas aplicadas pelo Bank of America Corp., que ficou classificado entre os cinco principais subscritores de bonds de alto rendimento dos mercados emergentes desde 2009, caíram 15,4 por cento.

Candice Sun, porta-voz do Credit Suisse em Hong Kong, preferiu não comentar, assim como Tiffany Chen, porta-voz do Bank of America em Hong Kong.

Pressão da China

Um dos fatores de pressão é a China, que cresceu nos últimos anos e se tornou a maior fonte de novas emissões de bonds da Ásia. As construtoras chinesas têm estado visivelmente ausentes dos mercados internacionais neste ano, preferindo vender dívidas denominadas em yuans em meio à queda das taxas onshore. Isso implica em tarifas ainda mais baixas para os bancos de investimento internacionais, que normalmente se especializam em negócios em dólar e encontram dificuldades para competir com os bancos chineses na parte continental do país asiático.

As empresas brasileiras também vêm se afastando dos mercados estrangeiros para evitar o risco cambial depois que o real atingiu o nível mais baixo em relação ao dólar desde outubro de 2002. As vendas de bonds internacionais na maior economia da América Latina caíram 65 por cento neste ano em relação ao mesmo período de 2014, para US$ 14,7 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Nenhum emissor com classificação de grau especulativo do país vendeu notas em dólares entre setembro de 2014 e junho deste ano. O montante de US$ 1,2 bilhão emitido depois disso coloca 2015 no caminho de ser o pior ano desde 2002 para as vendas de bonds brasileiros com classificação abaixo do grau de investimento.

“Não estamos vendo alguns dos emissores de tamanho considerável com classificação abaixo do grau de investimento da região porque eles estão relacionados com a indústria de commodities ou por causa de parte da incerteza que rodeia a situação política e econômica do Brasil”, disse Michael Schoen, chefe de mercados de capitais de dívida do Scotiabank em Nova York.

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