Por Cristiane Lucchesi e Pablo Gonzalez.
Uma “revolução silenciosa” no Brasil impulsionará as fusões e aquisições nos próximos três anos, uma vez que o governo está vendendo ativos em ritmo muito mais acelerado do que as estimativas iniciais, segundo um dos principais assessores em fusões e aquisições do país.
“O que vimos até agora não é nada comparado ao que ainda está por vir”, disse Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimento-boutique BR Partners, em entrevista em São Paulo. “Até os ativos considerados joias da coroa acabarão sendo vendidos.”
O governo já alienou vários ativos, incluindo a venda por US$ 8,6 bilhões da TAG, uma unidade de gasodutos da Petrobras, na maior transação anunciada este ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Ainda estão no radar a venda de outras subsidiárias e campos de petróleo da Petrobras, contribuindo para a meta do governo de arrecadar pelo menos US$ 20 bilhões em privatizações este ano.
O presidente Jair Bolsonaro pediu que o secretário de desestatização e desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, venda pelo menos uma empresa estatal por semana, disse Mattar no início deste mês. Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro, trazendo consigo uma equipe econômica que defende a venda em larga escala de propriedades estatais para ajudar a equilibrar o orçamento. Alguns analistas especularam que Bolsonaro não estaria comprometido com tal política, com base em suas críticas aos governos anteriores que tentaram fazer isso.
Mas ficou claro que as metas do presidente estão alinhadas com as de sua equipe econômica, disse Lacerda, cuja empresa fundada há uma década está prevendo receitas e lucros recordes este ano.
“A qualidade da equipe econômica e sua determinação ideológica de privatizar, de reduzir o tamanho do Estado, estão criando condições muito positivas para os negócios”, disse Lacerda. “Esse consenso é muito tranqulizador para os empresários.”
Mercado de fusões e aquisições
O número de aquisições no Brasil saltou para 339 até agora este ano, 13% a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. O valor das transações é 6% menor, de US$ 34,4 bilhões. A BR Partners, que liderou o ranking de assessores financeiros de M&A no Brasil no primeiro semestre do ano, caiu para o segundo lugar no ano até 16 de agosto.
Boutiques de assessoria financeira estão tomando fatias do negócio de fusões e aquisições dos grandes bancos, alguns dos quais reduziram seus times de banco de investimento nos últimos anos e agora estão priorizando a assessoria em emissão de ações, segundo Daniel Wainstein, responsável pelo escritório da Greenhill & Co. para o Brasil. A empresa ocupa o terceiro lugar no ranking com base no número de negócios de M&A, com um pipeline qualificado de “robusto” por Wainstein.
Diogo Aragão, chefe de fusões e aquisições do Bank of America Corp. no Brasil, disse esperar negócios nos quais o governo vai vender ativos em setores de infraestrutura, incluindo portos, ferrovias, aeroportos e logística. O tamanho das transações envolvendo a indústria de petróleo e gás continuará a crescer, disse ele.
“Taxas de juros mais baixas devem impulsionar o financiamento de aquisições, ajudando na consolidação em setores como varejo e saúde”, disse Aragão.