Brasil: BB se torna banco mais barato do mundo após governo vender ações

Por Francisco Marcelino e Ney Hayashi.

O Banco do Brasil SA sempre foi negociado com desconto em relação aos bancos privados brasileiros. Agora, ele é o banco mais barato do mundo depois de o governo começar a vender parte de sua fatia no capital.

O Banco do Brasil é negociado a 5 vezes o lucro previsto para os próximos 12 meses. Essa é a menor relação entre os 100 principais bancos do mundo por valor de mercado. A média nesse grupo é de 11,5 vezes, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O maior banco da América Latina em ativos está em queda depois que o fundo soberano brasileiro anunciou que no mês passado começou a vender ações. A venda é um sinal de que o governo pode sacar recursos do fundo para financiar o déficit fiscal. O Fundo Soberano vendeu 1 milhão de ações do BB em junho, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“A venda é muito negativa para as ações”, disse Gilberto Tonello, analista do Grupo Bursátil Mexicano em São Paulo, em entrevista por telefone, na segunda-feira. “O que os investidores vão pensar? Se o maior acionista está vendendo, é melhor cair fora antes”.

O volume de negociação subiu 44 por cento acima da média de três meses da ação no dia 16 de julho, depois que a Bloomberg informou a venda de ações. O Tesouro posteriormente confirmou a transação, chamando-a de uma “medida prudencial em um contexto de política de consolidação fiscal do Setor público”.

O Banco do Brasil e o Tesouro não quiseram comentar a perspectiva para as ações do banco.

Nota de crédito

O governo da presidente Dilma Rousseff vem elevando impostos e cortando despesas para reduzir o maior déficit fiscal em mais de uma década e evitar o corte na nota de crédito do País, que poderia colocar em xeque seu grau de investimento.

O governo pode pedir que o Fundo Soberano venda mais ações do Banco do Brasil para ajudar a financiar o déficit fiscal, disse uma fonte com conhecimento do assunto, que pediu anonimato porque os planos não são públicos. A venda inicial de 1 milhão de ações representa menos de 1 por cento da participação de R$ 2,41 bilhões do fundo no banco.

Para os investidores capazes de suportar o risco, o Banco do Brasil ainda é uma aposta válida por causa de seus dividendos, disse Karina Freitas, analista da corretora Concórdia. O banco deverá pagar R$ 1,656 por ação em 2016, um rendimento equivalente a cerca de 7,5 por cento, com base nos preços atuais, segundo estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg. Esses valores contrastam com um pagamento de 4,4 por cento do Itaú Unibanco Holding SA.

“Sob uma perspectiva de longo prazo, estamos positivos em relação ao setor bancário”, disse Freitas, de São Paulo. Ela é uma dos nove analistas que classificam a ação como compra. Treze recomendam mantê-la e um aconselha a venda.

João Pedro Brugger, gerente de recursos da Leme Investimentos, que supervisiona cerca de R$ 500 milhões em ativos, disse que a ação pode cair ainda mais.

“A venda vai pesar no preço da ação, não tem como não pesar”, disse Brugger, por telefone, de Florianópolis. “É um volume significativo”.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.