Por Vinícius Andrade e Josue Leonel.
O comportamento favorável da inflação nos primeiros meses do ano deve permitir que a taxa básica de juros caia novamente em 0,25 ponto percentual na próxima quarta-feira, de 6,75% para 6,50%. Apesar da sinalização do último comunicado de que o cenário-base do Copom seria o encerramento do ciclo no encontro de março do Comitê, o Banco Central admitiu em sua própria comunicação recente que foi surpreendido pelas últimas taxas de inflação. Assim, a aposta majoritária acabou migrando da estabilidade para um corte adicional — tanto na visão dos analistas como pela probabilidade implícita do mercado de juros futuros.
A aposta em extensão da flexibilização monetária ganhou força após o resultado do PIB do quarto trimestre frustrar a estimativa, diante da perda de fôlego do consumo, e foi reforçada por dados de inflação corrente abaixo do esperado. Além disso, a projeção para IPCA no fim do ano na pesquisa semanalFocus caiu para 3,63% e o viés baixista passou também a contaminar a inflação projetada para 2019. Após 46 semanas inalterada, a estimativa para IPCA no fim do ano que vem recuou para 4,20% e foi mantida neste patamar na pesquisa divulgada nesta segunda-feira, marginalmente abaixo da meta de inflação.
Se a ampla maioria dos agentes de mercado vê espaço para um estímulo extra, é praticamente um consenso de que, caso já não opte pela sinalização mais explícita de que o ciclo de flexibilização monetária está encerrado, a autoridade monetária deve adotar um tom mais hawkish no comunicado, transmitindo a mensagem de que, para haver um outro corte em maio, a barra será ainda mais elevada. “Se deixar a porta aberta, o BC deve dizer que a probabilidade de cortar mais irá requerer mais mudança. Agora, a surpresa precisará ser de calibre maior”, diz Alberto Ramos, economista sênior do Goldman Sachs, em entrevista por telefone.
Para Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, o mais provável é que o Copom deixe a porta aberta para uma nova redução, mas, desta vez, o Comitê deve “subir a barra”. A visão também é compartilhada por Flavio Serrano, economista sênior do banco Haitong. “Se vier o corte, a sinalização de que o ciclo foi encerrado deve ser mais forte do que a da última reunião”, diz Serrano.
A manutenção de surpresas inflacionárias e dados que apontam a atividade econômica estagnada poderiam levar à extensão do ciclo, segundo Marco Oviedo, chefe de pesquisa econômica do Barclays. Para Ramos, do Goldman, o BC já deve começar a mirar em 2019, em meio às incertezas que se encontram mais adiante, como o risco eleitoral no cenário doméstico e a questão da política monetária nos países desenvolvidos. “Terminar o ciclo com uma nota conservadora também protegeria ainda mais a credibilidade do BC”, diz Ramos.
“Essa redução de juros de 775 pontos-base já é brutal. Tendo a achar que, apesar de não fechar a porta, o BC deve ser mais cauteloso”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.
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