Por Josué Leonel, com a colaboração de Mario Sergio Lima e Paula Sambo.
Nota divulgada pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, dizendo que revisões das projeções do PIB brasileiro pelo FMI foram “significativas”, mudou drasticamente as apostas do mercado para o Copom. Se antes a aposta majoritária era em alta de 0,50 pp da Selic, agora os investidores consideram mais provável aumento de 0,25 pp, para 14,5%. A nota, que quebra o ritual do BC de não se pronunciar próximo à reunião do Copom, recebeu críticas e foi vista como uma senha de que o BC pode estar abandonando uma postura mais dura contra a inflação.
A nota do BC acabou gerando mais desconfiança por coincidir com notícia divulgada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, de que Tombini teria tido ontem encontro fora da agenda com a presidente Dilma. “O Tombini tem reunião com a presidente e depois solta uma nota destas?”, questionou Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados.
O ex-BC, que tem sido crítico contumaz da política econômica dos últimos cinco anos, também questiona o fato de o BC ter chamado a atenção para a mudança de previsão do FMI para o Brasil em um momento em que se discute a alta dos juros. O Fundo prevê agora uma contração do PIB de 3,5% este ano. Embora seja pior do que a previsão do mercado, o número do Fundo não fica muito longe da mediana da pesquisa Focus do BC, que aponta queda de 2,99% do PIB em 2016. Projeção do FMI, diz Schwartsman, não é um ”leading indicator”, ou seja, um indicador capaz de determinar tendências.
“Nenhum BC deveria ser afetado por projeções do FMI”, diz Win Thin, estrategista-chefe para mercados emergentes do Brown Brothers Harriman em Nova York. O Fundo está basicamente ajustando suas projeções às do mercado, que já estavam mais pessimistas sobre o PIB, diz Thin, que também questiona a mensagem ocorrer em dia de Copom. Se o BC reverter sua postura mais dura contra inflação tomando o dado do FMI como base, o sentimento do investidor ficará muito negativo com o Brasil, diz o executivo.
Para Flávio Serrano, economista sênior do banco Haitong, aumentou a chance de não haver uma alta de 0,50 pp no Copom desta quarta, como o mercado estava precificando. “Tombini pode estar usando o relatório do FMI de forma a dar um caráter técnico a uma decisão de alta menor ou sem alta da Selic”. A nota do BC foi em direção contrária a todas as comunicações do BC desde a última reunião do Copom, inclusive a carta enviada ao ministro Nelson Barbosa explicando o não cumprimento da meta em 2015, diz Serrano.
Procurado pela reportagem, o BC disse que não comenta especulações ou opiniões de mercado.
Antes da nota do BC hoje, a maioria dos analistas vinha apostando em alta mais forte da Selic, de 0,50 pp, por entender que os comunicados do BC vinham dando maior peso ao risco inflacionário. Ao chamar de significativa a projeção de recessão do FMI, o BC pareceu fazer a balança pender para os economistas que dizem que o Copom não deveria elevar o juro devido à piora da atividade. Entre esses economistas estão Octavio de Barros do Bradesco e Cristiano Oliveira do Banco Fibra.
Schwartsman lembra que o BC parou de subir a Selic em julho e, desde então, as expectativas de inflação se aceleraram. Com isso, o juro real diminuiu e o BC precisa elevar a Selic agora para que taxa se recupere, interrompendo a piora de expectativas. “A recessão não vai fazer a inflação cair se as expectativas estiverem desancoradas”.
Para Schwartsman, a recessão não é justificativa para não subir os juros. O Brasil corre o risco de repetir o erro do passado, de adiar o combate à inflação para tentar evitar a recessão. Isso teria ocorrido em 2011, quando o BC cortou os juros para evitar que o Brasil fosse afetado pela crise europeia. O problema, diz o ex-diretor do BC, é que tentar evitar a queda da atividade acaba fazendo com que a recessão seja ainda pior no futuro. “Nós temos empurrado o problema com a barriga e ele fica pior mais à frente”.
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