Por Josué Leonel, com a colaboração de Patricia Lara e Paula Sambo.
O tom duro do Banco Central no comunicado da decisão de cortar a Selic, advertindo para a necessidade de uma queda mais consistente da inflação de serviços e progressos nas reformas fiscais, gerou forte reação no mercado. A maioria dos contratos de juros futuros sobe, com a diminuição da aposta de que o BC iria acelerar o ritmo de corte da Selic em novembro para 0,50 ponto percentual. Os contratos mais longos, porém, caem junto com o dólar, mostrando que o otimismo do mercado não se apagou.
Para alguns analistas, o próprio fato de o BC ter mostrado cautela ajuda a manter o processo de melhora das expectativas. Juros maiores no curto prazo poderiam levar a uma inflação menor e, consequentemente, juros potencialmente menores, no longo prazo. O economista Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, não reduziu sua previsão – mais otimista do que a da média do mercado – de que a Selic vai cair 5,25 pp até o início de 2018.
Embora uma taxa de 9% pareça baixa perto dos atuais 14%, ela ainda será elevada considerando-se que a inflação em 12 meses em 2018 estará rodando perto da meta de 4,5%, diz Carvalho. A expectativa de juros menores também contempla a efetivação dos planos do governo em relação às reformas, com a aprovação da PEC do teto de gastos este ano e das mudanças na Previdência em 2017. O dólar, que pode cair a R$ 3,00 ou menos se as reformas forem aprovadas no próximo ano, também deve ajudar o país a ter inflação e juros menores, diz Carvalho.
A hipótese de aceleração do corte da Selic para 0,50 pp em novembro, embora um pouco questionada pelo comunicado do BC, ainda não pode ser totalmente descartada, diz Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda. Tudo vai depender de a inflação de serviços, que preocupa muito o BC, ceder, diz o economista. Ele lembra que a inflação de serviços vinha recuando até fevereiro, mas desde então tem mostrado resistência.
O comunicado do Copom teve vários pontos vistos como evidências de que o BC poderia estar menos otimista do que o mercado em relação às projeções de queda dos juros. Em um dos trechos, o BC disse que o cumprimento da meta de inflação de 4,5% é “compatível com uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias”. Ou seja, o cenário, hoje, não seria compatível com um corte maior do que 0,25 pp e nem com um ciclo total expressivo, como o mercado vinha prevendo.
Porém, em outro trecho, o BC diz que a “magnitude da flexibilização monetária e uma possível intensificação do seu ritmo dependerão de evolução favorável de fatores”. Ou seja, o BC não fechou a porta a cortes maiores dos juros, apenas condicionou seus passos e alertou que a queda já registrada pela inflação e os primeiros passos da agenda fiscal do governo ainda são insuficientes para assegurar a convergência da inflação ao centro da meta.
Antes do próximo Copom, em 30 de novembro, o mercado ainda terá oportunidades para checar o comportamento de alguns fatores relevantes para o BC. Além do IPCA-15 de outubro, que será divulgado nesta sexta-feira, o Copom do próximo mês ainda terá disponíveis os dados do IPCA fechado de outubro e o IPCA-15 de novembro. Novas votações da PEC do teto no Congresso e o anúncio da reforma da Previdência também são eventos possíveis de ocorrer antes da próxima decisão do BC.
Melo, do Icatu, para quem o tom cauteloso do Copom foi “acertadíssimo”, considera que o BC iniciou nesta quarta-feira um ciclo de cortes que pode checar a 3 pontos percentuais. “Ser mais comedido agora aumenta a chance de ter juro menor no futuro”.
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