BC vai segurar o dólar com swaps? Histórico não é favorável

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

A decisão do Banco Central de aumentar a oferta de swaps cambiais ajudou a frear a acelerada do dólar, que ameaçava buscar os R$ 3,60 na quinta-feira passada. Desde então, a alta perdeu fôlego e o câmbio fechou ligeiramente abaixo de R$ 3,50 nos últimos 2 dias. A volatilidade, contudo, permanece elevada, com o mercado cético sobre a possibilidade de os leilões terem um efeito duradouro.

O histórico do mercado de câmbio e das atuações do BC não parece autorizar muito otimismo. Desde que o programa de swaps foi anunciado, em 22 de agosto de 2013, o real se desvalorizou 30%, maior perda entre as 16 principais moedas acompanhadas pela Bloomberg. Isso apesar de o estoque de swaps vendidos pelo BC desde então ser de aproximadamente US$ 100 bilhões. A volatilidade também não caiu, apesar da munição gasta pelo BC. Pelo contrário, é a maior entre as principais moedas globais.

Embora os swaps sejam instrumentos cambiais liquidados em real, o que significa que não geram perda de reservas, seu uso está longe de ser indolor. Os swaps representam uma posição vendida para o BC, que têm perdas quando o dólar sobe. Por isso, são contabilizados como dívida bruta, indicador olhado com lupa pelas agências de rating que ameaçam tirar do Brasil o grau de investimento.

O fato de o real ser a “pior moeda do mundo” mostra que a política de intervenções do BC não tem dado resultados, diz Nathan Blanche, economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada. O problema, para o consultor, é que tem pouco efeito vender dólar futuro através dos swaps quando o mercado não tem certeza de que o real já se desvalorizou o bastante. Ou seja, se o mercado acha que ainda está barato, segue comprando a moeda, mesmo com o BC atuando no mercado.

“O BC deveria deixar o câmbio ir até onde ir”, diz Blanche. Para ele, ainda que R$ 3,50 já possa representar o chamado valor de equilíbrio para a moeda brasileira, o mercado ainda não tem essa percepção de forma convicta. “Ninguém sabe qual o preço de equilíbrio. Pode ser R$ 3,50, R$ 4,00 ou até R$ 5,00”. Para ele, as intervenções continuadas do BC dificultam a tarefa do mercado de calcular qual a taxa de câmbio necessária para equilibrar a economia brasileira.

Crítico do excesso de intervenções no câmbio, que só deveriam ocorrer em momentos específicos, Blanche compara a venda de swaps às chamadas “pedaladas fiscais”, procedimento que está em análise do TCU que visaria esconder dados que apontam piora fiscal. No caso do swaps, o uso do instrumento ajudaria o BC a adiar uma desvalorização inevitável do real, gerando um custo ao País via aumento da dívida bruta.

Assim como outros analistas, Blanche considera que os swaps têm efeito apenas de curto prazo. Isso já foi observado em outros momentos em que o BC ampliou o volume de swaps. O dólar teve uma reação inicial de baixa e depois retomou o caminho de valorização diante de incertezas externas, como o receio de alta dos juros americanos ou de desaceleração da China, ou internas, como a crise política e a deterioração fiscal. E estes fatores de preocupação que fizeram o dólar subir nos últimos anos continuam presentes, alguns de forma mais grave.

Ainda que o entendimento recente entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Renan Calheiros tenha sido visto como positivo para o governo, a crise política ainda é fator crucial nas incertezas sobre a economia, o que alimenta a volatilidade do câmbio. O maior receio dos investidores é que, diante de um Congresso hostil, o governo fracasse no cumprimento do ajuste fiscal. O risco de impeachment, embora ainda não seja considerado o cenário mais provável, continua no radar.

O alívio com o fato de a nota brasileira ter sido cortada pela Moody’s, mas sem sinalizar novo corte, foi ofuscado por uma má notícia inesperada do maior parceiro comercial do Brasil. A desvalorização do câmbio na China levou à desvalorização de moedas no mundo inteiro, menos pelo tamanho da depreciação, e mais pelo receio de que a China, motor de crescimento dos países emergentes há quinze anos, esteja passando por uma desaceleração mais aguda do que se pensava. Uma preocupação a mais para o Brasil, que já enfrentas desafios econômicos e políticos domésticos suficientemente sérios.

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