BCE derruba rendimentos de títulos e não pode mais comprá-los

Por Katie Linsell.

O Banco Central Europeu está começando a formar preços que o expulsam do mercado de títulos corporativos e os rendimentos atingem valores mínimos tão baixos que algumas notas já não são mais qualificadas para seu programa de aquisições.

As compras sem precedentes de dívida corporativa feitas pelo presidente do BCE, Mario Draghi, provocaram queda recorde no custo do crédito e agora os rendimentos de alguns valores estão tão baixos que ficam fora dos critérios do próprio BCE. Os rendimentos dos papéis da rede de transporte público de Paris já caíram abaixo do patamar de -0,4 por cento e os da Siemens, a maior empresa de engenharia da Europa, os da operadora ferroviária francesa SNCF e os da Sagess, que administra as reservas estratégicas de petróleo do país, também estão se aproximando do ponto de exclusão.

Os rendimentos cada vez mais negativos estão levantando dúvidas sobre o que mais o BCE pode fazer nos mercados de crédito para estimular o crescimento. Os rendimentos de 2,6 trilhões de euros (US$ 2,9 trilhões) em títulos de governos na Europa já se tornaram negativos quando o banco central comprou 1,3 trilhão de euros em ativos de renda fixa, incluindo 32 bilhões de euros em dívida corporativa.

“Isso é um sinal do impacto que a compra de títulos corporativos teve no mercado de crédito”, disse Barnaby Martin, estrategista de crédito do Bank of America para a Europa. “Se os rendimentos corporativos continuarem caindo, então é possível que isso possa afetar a capacidade do BCE de comprar papéis. É surpreendente como chegamos rapidamente a esta situação”.

‘Jogo relativo’

O BCE comprou em média cerca de 7,4 bilhões de euros por mês em notas com grau de investimento, superando as estimativas de um máximo de 5 bilhões de euros feitas por analistas do Commerzbank e do Morgan Stanley antes do começo das compras em junho.

Isso provocou uma queda no rendimento médio dos títulos corporativos em euros para o valor mínimo recorde de 0,59 por cento no mês passado e a taxa era de 0,74 por cento na quinta-feira, segundo dados de índices de títulos da Bloomberg Barclays. A dinâmica tem sido exacerbada por investidores que estão acumulando os papéis mais seguros porque a preocupação com a saúde financeira do Deutsche Bank abalou a confiança dos mercados.

“É um jogo relativo”, disse Rik Den Hartog, gerente de portfólio da Kempen Capital Management em Amsterdã, que administra cerca de US$ 5,9 bilhões em créditos e investe em dívida com rendimentos negativos. “Se eu deixar o dinheiro em uma conta bancária ou comprar o título de um governo que rende ainda menos, isso dá mais prejuízo do que investir em um papel corporativo, mesmo com um rendimento negativo”.

Embora o trabalho do BCE possa se complicar se mais rendimentos de títulos caírem abaixo do patamar, atualmente pode haver até 671 bilhões de euros em notas corporativas ainda disponíveis para compra, segundo análises da Bloomberg sobre critérios e dados de papéis do banco. Além disso, nada impede o banco de comprar dívida perto do limiar porque a instituição não terá que vendê-la, nem mesmo se depois ela cair abaixo do patamar.

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