BCE diz que ainda tem opções antes de políticas mais extremas

Por Alessandro Speciale e Piotr Skolimowski, com a colaboração de Jeff Black.

O Banco Central Europeu ainda conta com os instrumentos necessários para conter os riscos de deflação caso ainda não esteja pronto para adotar políticas mais extremas, como o chamado “dinheiro do helicóptero”, disse Jan Smets, membro do Conselho Governativo do BCE.

“O dinheiro do helicóptero não está sobre a mesa e eu não vi nenhuma análise aprofundada sobre isso”, disse Smets, que é presidente do Banco Nacional da Bélgica, em entrevista à Bloomberg, em Frankfurt, na quinta-feira. “Se no futuro, devido a choques ou outros acontecimentos, as condições financeiras justificarem, temos uma série de instrumentos que podem ser usados, o que inclui tanto juros quanto políticas não convencionais”.

Smets se une, assim, a um coro de membros do BCE que ressaltam sua disposição para a flexibilização das políticas se necessário. Os comentários também indicam que os membros do banco central têm esperanças de que o abrangente pacote de flexibilização anunciado após sua reunião de março ajudará a combater a inflação, que está muito baixa na Europa.

Smets disse que vai demorar para que as medidas adotadas em março — como a expansão da flexibilização quantitativa para os bonds corporativos, um investimento mensal maior, cortes nos juros e empréstimos de longo prazo aos bancos — mostrem sua real efetividade.

Inflação baixa

“Eu não tenho nenhuma dúvida quanto à eficiência e à contribuição positiva do novo pacote”, disse ele. “Cada aspecto do pacote é importante, mas, combinado, ele sinaliza a determinação do Conselho Governativo para fazer o que for necessário para cumprir sua função”.

O uso do instrumento chamado “dinheiro do helicóptero” surgiu em meio a dúvidas sobre a saúde da economia e ao potencial das atuais medidas do BCE para reanimar a inflação. O objetivo da medida é transferir recursos o mais diretamente possível para a economia, driblando intermediários usuais, inclusive os bancos. Embora o vice-presidente do BCE, Vitor Constancio, e o membro do Conselho Executivo Peter Praet tenham descartado a medida na quinta-feira, o membro do Conselho Governativo Ignazio Visco foi mais ambíguo.

O crescimento dos preços ao consumidor na zona do euro não atingiu a meta do BCE, de pouco menos de 2 por cento, durante três anos e os preços caíram pelo segundo mês seguido em março. Constancio disse ao Parlamento Europeu em Bruxelas, na quinta-feira, que os “efeitos secundários” — nos quais a baixa inflação é transmitida a salários e contratos — agora são visíveis.

“Um período prolongado de inflação baixa é realmente ruim”, disse Smets. “Não estamos aplicando políticas em um laboratório, mas em um mundo real que, feliz ou infelizmente, está mudando e continuará mudando. O fato de que o resultado possa vir a ser um pouco decepcionante não significa que as políticas não funcionam, mas que sem elas a situação seria pior”.

Comunicação clara

A ata da reunião do Conselho Governativo de 10 de março, publicada na quinta-feira, mostrou que os integrantes do conselho avaliaram um corte maior da taxa de depósito antes de decidirem pela redução de 10 pontos-base, para menos 0,4 por cento.

“É clara nossa comunicação de que manteremos as taxas de juros no nível atual ou mais baixo”, disse Smets. “Qualquer nova decisão obviamente terá que ser cuidadosamente examinada, mas não se pode dizer que essa porta está fechada”.

Na entrevista à Bloomberg, Smets também respondeu aos críticos do BCE. Os bancos da zona do euro têm reclamado que as taxas negativas estão espremendo seus lucros em um momento em que se espera que eles aumentem o crédito na economia.

“Eu não vejo um sistema financeiro manter-se saudável em um ambiente macroeconômico ruim, com um período prolongado de inflação baixa ou com uma estagnação secular”, disse Smets. “Os bancos também deveriam pensar no impacto benéfico da nossa política monetária sobre os volumes de crédito, em seu impacto na qualidade do crédito, nas medidas que eles devem adotar e nos ganhos de capital”.

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