BCE é visto novamente como salvador da zona do euro após Brexit

Por Jeff Black e Andre Tartar.

Frexit. Quitaly. Os nomes são divertidos, mas a realidade não seria.

Nos dias seguintes ao referendo do Reino Unido, que decidiu a saída da União Europeia, o fato de comentaristas estarem procurando o próximo país com o qual se preocupar ilustra a crise existencial do projeto europeu. No caso da zona do euro — a seção de 19 países da UE que buscou uma integração mais ampla –, uma perigosa perda de impulso econômico está a caminho, segundo uma pesquisa da Bloomberg.

Mesmo com a economia entrando em seu 14º trimestre de expansão, o desemprego ainda está acima dos 10 por cento e os partidos populistas estão em ascensão, da Alemanha à Holanda. O crescimento mais lento pode empurrar as posições políticas mais em direção aos extremos, embora ainda haja dúvidas em relação a tópicos como a falência do sistema bancário da Itália e a reforma das regras orçamentárias do bloco, e o Banco Central Europeu parece ser a única instituição disposta a agir.

“O populismo é uma ameaça real à coesão da Europa no momento e um ambiente de crescimento mais fraco torna a resolução dos problemas mais difícil”, disse Philippe Gudin, economista-chefe do Barclays para a Europa em Paris. “Para sair desse ciclo realimentador negativo, precisamos de uma mensagem de confiança muito forte para o setor empresarial sobre o futuro da Europa. A resposta ainda não chegou lá”.

O BCE projeta um crescimento econômico de 1,6 por cento em 2016 e de 1,7 por cento em 2017 na zona do euro — mas a previsão foi feita antes do referendo do Brexit, realizado em 23 de junho. A próxima atualização está programada para setembro.

Os economistas participantes da pesquisa disseram que as consequências do Brexit eliminarão 0,1 ponto percentual do crescimento do produto interno bruto, 0,3 ponto percentual em 2017 e 0,15 ponto percentual em 2018. Isso representa cerca de 59 bilhões de euros (US$ 66 bilhões) em produção perdida.

Não haverá dados econômicos concretos úteis disponíveis antes de setembro, quando serão divulgados os números de julho. O impacto político, contudo, pode vir a ser sentido antes. Com a pressão dos partidos eurocéticos na França e na Itália, a segunda e a terceira maiores economias da zona do euro, os líderes enfrentam dificuldades para implementar as políticas necessárias para livrar seus países da atual armadilha do crescimento baixo.

Um referendo constitucional na Itália, marcado para outubro, e o destino da reforma do mercado de trabalho da França, antes da eleição presidencial de 2017, são pontos de atrito políticos que poderiam ampliar as incertezas do investidor e limitar a perspectiva de crescimento.

“Cada país duvida da capacidade de seu vizinho de reformar sua própria economia e da disposição de avançar em conjunto”, disse o membro do Conselho Executivo do BCE Benoît Coeuré, em entrevista ao jornal Le Monde publicada em 1º de julho. “Não podemos avançar nessas condições. Quando a confiança voltar, chegará o momento de uma maior integração”.

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