Por Maria Tadeo e Carolynn Look.
Quando uma recuperação não é uma recuperação de fato?
É clara a virada para melhor da economia na região de 19 países que usam o euro. Mas a questão fundamental para o Banco Central Europeu é se a retomada é genuína ou puramente sustentada pelo estímulo monetário. A visão adotada pelas autoridades ajudará a definir a velocidade da retirada das compras de ativos e o início da alta dos juros.
Há apenas dois meses, a defesa da prorrogação do afrouxamento monetário pelo presidente do BCE, Mario Draghi, foi recebida com consenso. Desde então, o avanço da inflação e a melhora da perspectiva econômica aumentaram o clamor por mudanças. As autoridades alemãs especificamente, que já defendiam o início da normalização monetária, esperam que seus pares fiquem mais confiantes para que haja mais apoio à retirada dos estímulos.
“Draghi está errando por cautela; o que ele não quer é agir cedo demais e ser forçado a recuar”, disse Holger Sandte, analista-chefe para Europa da Nordea Markets, em Copenhagen. “O núcleo da inflação será essencial. Enquanto ficar contido, os partidários da flexibilização têm argumento. Isso não quer dizer que os partidários do aperto ficarão quietos. Eles vão ficar mais contundentes e barulhentos com a confirmação dos dados.”
A cautela de Draghi é motivada por riscos como a retórica protecionista do novo governo dos EUA, a saída do Reino Unido da União Europeia e o calendário eleitoral europeu. Partidos céticos quanto ao euro estão ganhando apoio antes das eleições em algumas das maiores economias da região, ameaçando outra vez o futuro da moeda única.
Na quinta-feira, o presidente do BCE declarou em Liubliana, na Eslovênia, que a Europa não deve virar as costas ao livre comércio e às fronteiras abertas diante do aumento do nacionalismo e da insegurança global.
Outra preocupação é a contínua fraqueza das pressões inflacionárias subjacentes. Há mais de um ano, o núcleo da inflação em 12 meses não passa de 1 por cento. A aceleração da inflação cheia para um patamar sincronizado com a meta do BCE, de pouco abaixo de 2 por cento, não convenceu Draghi. Ele quer ter certeza de que a alta é persistente e disseminada.
“O centro da nossa análise será ‘a inflação maior é sustentável?’”, disse um integrante do Conselho Executivo do BCE, Benoit Coeure, na quinta-feira em Paris. “A conclusão hoje é: não.”
Se os salários não subirem para compensar a alta dos preços, a inflação maior também terá implicações para o gasto do consumidor, que puxa a recuperação econômica. Outra questão é a persistente divergência entre as economias do norte e sul do continente.
Draghi argumentou que ainda é necessário “um grau muito substancial de acomodação monetária”, mas dados divulgados nesta semana dão munição a quem defende o começo da conversa sobre a retirada dos estímulos.
No último trimestre do ano passado, a economia da região registrou o maior crescimento em três trimestres e o desemprego caiu para o menor nível desde 2009. Em janeiro, a confiança chegou ao maior patamar em seis anos e a atividade industrial se acelerou.
Jens Weidmann, presidente do banco central alemão (Bundesbank), é um dos defensores mais ferrenhos da opinião de que a virada é cíclica e está arraigada.
“Apesar da percepção gerada por algumas discussões, as perspectivas econômicas para a zona do euro não são tão ruins”, ele disse em 26 de janeiro. “O hiato do produto está se fechando lentamente e o emprego continua aumentando. Se as fábricas ficarem mais ativas e mais gente encontrar emprego, salários e preços também subirão mais rápido.”
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