Por Paula Sambo e Jessica Brice.
Luiz Alves Paes de Barros é uma espécie de enigma nos círculos financeiros de São Paulo. Aos 69 anos, ele é conhecido como “bilionário anônimo” por acumular fortuna silenciosamente apostando em ações que quase ninguém mais parece querer.
Com o Magazine Luiza, Barros pode ter feito uma de suas melhores apostas até agora.
Desde o fim de 2015, a firma de Barros, a Alaska Investimentos, transformou a abatida empresa de varejo em um de seus principais ativos, uma jogada ousada em um país que passa por sua pior recessão em um século. Funcionou. O Magazine Luiza teve alta de mais de 1.000 por cento desde seu recorde de queda de um ano atrás, o que a transformou na melhor ação de um dos mercados de melhor desempenho do mundo. O rali transformou o Alaska Black Master, que Barros coadministra com Henrique Bredda e Ney Miyamoto, no segundo fundo em desempenho entre os 569 focados em ações brasileiras, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O último sucesso de Barros apenas aumenta a intriga em torno de um dos investidores mais célebres do Brasil, apesar de recluso. No início de sua carreira, ele negociou commodities e foi sócio da estrela da gestão de fundos Luis Stuhlberger no que se transformou na Credit Suisse Hedging-Griffo. Barros, então, passou o meio século seguinte investindo apenas seu próprio dinheiro, quase exclusivamente em ações brasileiras.
No que diz respeito à gestão do dinheiro dos outros, Barros é um principiante, já que ajudou a fundar a Alaska em julho de 2015. Mas seu método de investimento continua sendo o mesmo. Ele diversifica pouco suas ações, prefere empresas cujos valores estão no fundo do poço e normalmente compra quando todos os demais estão resgatando.
“Aperfeiçoar a paciência é tudo o que fiz nos últimos 50 anos”, diz Barros. “Eu amo quando as coisas ficam ruins. Quando está ruim, eu compro.”
Durante duas entrevistas, primeiro no pequeno escritório da Alaska no coração do distrito financeiro de São Paulo e depois em seu escritório pessoal, na avenida comercial mais antiga da cidade, o gestor de ativos grisalho explica o que o levou às ações do Magazine Luiza e a outros papéis de sua preferência hoje, como Fibria Celulose, Braskem, Marcopolo e Vale.
“O mercado esqueceu esses papéis”, diz ele.
A Alaska começou a acumular participações na fabricante de petroquímicos Braskem há cerca de quatro meses (a ação subiu 48 por cento desde meados de agosto após cair 20 por cento neste ano antes disso) e na fabricante de celulose Fibria alguns meses depois. Barros gosta de ambas as empresas porque elas têm fundamentos sólidos — e porque seus múltiplos estão baratos. A relação entre preço e lucro da Braskem é de 8,3, menos da metade do nível de três anos atrás. A avaliação da Fibria é de menos da metade da média dos últimos dois anos.
A fabricante de caminhões e ônibus Marcopolo é uma aposta na recuperação do Brasil da recessão, enquanto a mineradora Vale se beneficiará quando os investidores internacionais voltarem a procurar mais valor do que segurança. Não existe expansão econômica no Brasil sem investimentos em infraestrutura, diz ele.
“A Vale não será um desastre para ninguém. Quando os preços do minério de ferro subirem novamente, a Vale vai voar”, disse ele.
Se essas ações renderem apenas uma fração do retorno obtido com o Magazine Luiza, terão sido investimentos estelares. No total, a Alaska adquiriu quase 40 por cento das ações do Magazine Luiza, segundo documentos regulatórios. No terceiro trimestre de 2016, a Alaska se desfez de metade de sua participação. Os ativos restantes da Alaska no Magazine Luiza atualmente valem cerca de R$ 111 milhões (US$ 33 milhões).
Indagado sobre como sabia que o Magazine Luiza se sairia tão bem, ele diz que não sabia. “Eu sabia apenas que estava barato.” O fato de que a empresa de varejo, que comercializa eletrodomésticos e eletrônicos, estava com um valor de mercado de R$ 180 milhões, apesar de um banco ter se oferecido para pagar R$ 300 milhões pelo direito de oferecer garantias estendidas para os produtos do Magazine Luiza, deixou isso claro.
“Ou o banco estava maluco ou havia valor ali”, diz Barros.
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