Bilionários apostam no ensino brasileiro e aderem a fundos de buyout

Por Blake Schmidt.

Por pouco, o bilionário Jorge Paulo Lemann não se formou em Harvard, após ter sido repreendido por soltar fogos de artifício nos jardins da universidade.

Anos depois de tomar a decisão de voltar e se formar, em apenas três anos, Lemann e alguns colegas brasileiros bilionários enxergam uma oportunidade no deficiente sistema de ensino do Brasil. A sétima maior economia do mundo está na 132ª posição do ranking de qualidade do ensino fundamental, atrás até mesmo da Nigéria e do Haiti, e ligeiramente melhor no ensino superior, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial.

Além de os ativos de educação estarem baratos, uma vez que os cortes no financiamento do governo derrubaram as ações das empresas particulares de ensino, muitos também defendem o investimento na educação como fator fundamental para recuperar o crescimento econômico do país. Esse foi o assunto em um evento em São Paulo sediado pela Falconi Educação, um novo braço do grupo de consultoria Falconi.

“Os ativos estão com um desconto muito alto e existe uma grande oportunidade de crescimento, pois apesar da turbulência macroeconômica, a tese de crescimento da educação é sólida”, comentou Maria Tereza Azevedo, analista da UBS Brasil Representações em São Paulo. “O Brasil precisa aumentar a penetração e o nível do ensino, e precisa de profissionais mais bem treinados.”

O Ministro da Educação do Brasil surpreendeu os mercados e ocasionou a queda das ações de empresas de ensino, como a Kroton Educacional SA e a Estácio Participações SA, no último dia de negociação de 2014, quando publicou novas regras limitando o acesso aos créditos estudantis e alterando os cronogramas de pagamento. Essa atitude, destinada a ajudar a melhorar o orçamento e evitar outro rebaixamento de crédito, está impedindo a Presidente Dilma Rousseff de atingir sua meta de ampliar as matrículas no ensino superior.

“Queremos solucionar os grandes problemas do ensino, com planejamento, definição de metas, treinamento e foco nos resultados”, afirmou o fundador do grupo de consultoria Vicente Falconi, que é membro do conselho de corporações brasileiras, entre elas a Ambev. “Os diretores das escolas têm que ser os melhores. Os piores devem sair. Não podemos ter nomeações políticas.”

Há muito tempo, o sistema de ensino brasileiro atrai investidores privados, como a Laureate Education Inc. e a Advent International Corp. Abilio Diniz adquiriu uma participação na GAEC Educação, também conhecida como Anima, e no ano passado o colega bilionário, Julio Bozano, inaugurou um fundo de private equity para educação. Em uma negociação mais recente, realizada em outubro, a empresa de private equity Carlyle Group LP e a Vinci Capital Gestora de Recursos Ltda. adquiriram uma rede de escolas da Kroton por 1,1 bilhão de reais (290 milhões de dólares).

Há muito tempo a educação é uma prioridade para Lemann. O bilionário atrai novos gestores por meio do financiamento de bolsas de estudo em Harvard, Stanford e outras universidades de primeira linha. Ele pagou pelo ensino de Carlos Brito e Bernardo Hees, hoje presidentes da Anheuser-Busch InBev SA e da Kraft Heinz Co, respectivamente. A fundação da sua família, Fundação Lemann, concedeu 305 bolsas de estudo de pós-graduação em política pública no Brasil e pretende atingir 30 milhões de estudantes por meio de métodos como o treinamento on-line. A fundação também faz pressão para a reformulação do currículo nacional.

“O princípio é a excelência com equidade para todos”, disse Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, em uma entrevista em agosto. “Todos olham para o fator excelência da Lemann, mas aqui essa combinação realmente existe.”

Com certeza, isso não significa apenas caridade para os executivos brasileiros. Ele é o principal investidor da Gera Venture Capital que, segundo seu site, investe em empreendedores de alto potencial “com o objetivo duplo de criar impacto significativo na educação e atrair resultados financeiros atrativos.”
 

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