Por Lionel Laurent.
Todos, do motorista da Uber ao gestor de hedge funds, parecem ter medo de perder a oportunidade da bolha do bitcoin.
Esta é a única lição real que tivemos após a quebra da mais recente barreira simbólica pelo vovô das criptomoedas. O preço da moeda digital em dólares se multiplicou por dez neste ano — sem que nenhuma de suas falhas como método de pagamento tenha sido corrigida de forma convincente. As transações ainda são caras e lentas.
Os investidores de Wall Street e o apostador médio estão desesperados para surfar essa onda, amplamente apontada como insustentável, até mesmo por seus apoiadores. No lado sofisticado do mercado, o Bitcoin Investment Trust — uma forma de lucrar com a criptomoeda sem possuí-la — registrou ágio de 62 por cento em relação ao seu valor patrimonial líquido. As ações subiram 50 por cento em três dias. No lado do consumidor, as aberturas de conta estão na casa dos seis dígitos. As buscas no Google por termos como “empréstimo em bitcoin” e “crédito em bitcoin” estão aumentando.
Não se trata de investir para o futuro, mas de ficar rico agora. Jack Bogle, da Vanguard, está certo ao afirmar que não existe nada dando suporte ao bitcoin, exceto a Teoria do Mais Tolo — a esperança de que sempre haverá alguém no futuro disposto a comprar seu ativo a um preço ainda maior. Mas nem mesmo Bogle descarta a possibilidade de os preços do bitcoin dobrarem em relação ao patamar atual. Ele também está nessa.
A capitulação dos céticos tem sido notável. Histórias de arrependimento daqueles que venderam seus bitcoins estão se multiplicando. Em discussões com investidores experientes em criptomoedas tornou-se simplesmente impossível vislumbrar um cenário racional de colapso, seja devido a órgãos reguladores, cisões ou ataques hacker. Isso não significa que não haverá queda do preço — e sim que, quando ocorrer, será quase tão inexplicável quanto a ascensão.
Em outras palavras, fomos além dos gráficos de preços. O boom do bitcoin foi além das famosas manias de mercado do passado, como o frenesi das tulipas ou a Bolha dos Mares do Sul, e durou mais do que a epidemia de dança que atingiu a França no século 16. É um fenômeno social ou antropológico que lembra como diferentes tribos e culturas veem o conceito de dinheiro, desde dentes da baleia até dívidas sociais abstratas, conforme explorado pelo acadêmico David Graeber. Quantos outros mercados geraram arte conceitual a respeito do assassinato de um “ursobaleia”?
Reiterar os riscos óbvios e inerentes da negociação de criptomoedas é uma tarefa condenada ao fracasso. Mas, de novo, o ecossistema do bitcoin não está regulado e, portanto, está aberto a abusos. O suposto ataque hacker recente ao tether, que derrubou por um breve momento o preço do bitcoin, ainda não foi totalmente explicado, e há quem tema que as negociações especulativas por meio desses tokens conversíveis em dólares estejam aumentando a febre.
Ainda assim, a excitação geral em torno do bitcoin mostra que a moeda tem aproveitado o impulso especulativo, algo que aparentemente não será tranquilizado por dividendos, planos de negócios, fluxos de caixa ou casos de uso. O destaque a um número grande e redondo como US$ 10.000 retrata apenas nossa reação emocional a números grandes e redondos. Mas não afasta o risco de algum dia a moeda digital cair para o maior e mais redondo dos números — zero.
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