Por John Detrixhe.
Parece que os abalos súbitos no mercado de câmbio ficaram mais frequentes. Ocorreram pelo menos três crashes repentinos em um período de 14 meses. Agora, há esperança de descobrir a causa desses movimentos mais rapidamente.
O Citigroup está investindo em uma tecnologia que, se for amplamente adotada, pode desvendar os espasmos do mercado. O banco, que é o maior negociador de moedas do planeta, está na retaguarda da Cobalt DL, que pretende usar um registro distribuído e criar um único registro de negociação que substitua sistemas fragmentados.
A tecnologia de registro distribuído ficou famosa com a blockchain, que acompanha a moeda digital bitcoin. As instituições estão de olho na tecnologia para encontrar maneiras de simplificar operações de back office. Como a maioria das firmas que utiliza a tecnologia, o objetivo principal da Cobalt é reduzir custos para as instituições financeiras. No entanto, um benefício colateral seria o potencial para encontrar e inspecionar transações rapidamente.
Crashes repentinos tiram o sono dos executivos dos bancos. O Reino Unido ainda investiga a queda de 6,1 por cento da libra esterlina em 7 de outubro. O Banco de Compensações Internacionais (BIS) precisa entregar um relatório sobre o evento no mês que vem. O Citigroup também deve prestar contas e foi convocado para discutir seu possível papel no incidente.
Inspecionar o mercado de câmbio não é tarefa fácil. Quatro plataformas eletrônicas principais processam um volume diário de negócios de US$ 500 bilhões. Só que isso responde por apenas 10 por cento do mercado total. O resto passa por corretores que utilizam plataformas próprias e casam pedidos de compra e venda internamente.
Nesta semana, o BIS informou que espera mais “irrupções de volatilidade e eventos repentinos”. Sendo assim, de acordo com o cofundador da Cobalt, Andy Coyne, a tecnologia de registro distribuído pode ser a melhor aliada das autoridades reguladoras.
“Com um registro compartilhado, contanto que haja participação significativa, que é o objetivo, a informação estará disponível”, disse Coyne, que já trabalhou para gigantes do mercado de câmbio como Citigroup e Deutsche Bank. Ele também atuou na divisão de pós-negociação da ICAP.
A ideia é que as autoridades reguladoras poderão ir a um lugar só – ou a menos lugares — para analisar determinado evento. Bases de dados, ou repositórios, existem para isso. Mas é preciso que diversas partes verifiquem essas bases de dados para garantir sua precisão.
A Cobalt não é a única que investiga maneiras de aplicar a blockchain ao mercado de câmbio. O Goldman Sachs Group tem uma patente baseada na tecnologia. A ICAP, que logo passará a se chamar NEX Group, pretende usar o registro distribuído em negociações à vista a partir do fim de março.
O mercado de câmbio é fragmentado, como também são os sistemas internos dos bancos. Departamentos separados — como o de negociação de ativos e de gestão de risco — mantêm suas próprias bases de informações de preço. Segundo a ICAP, as firmas desperdiçam tempo valioso durante uma crise ou crash repentino ao tentar garantir que todos os envolvidos estejam focados nos dados certos.
Uma fonte única de dados “permite agir mais rapidamente”, disse David Thompson, diretor de operações da Traiana, uma divisão da ICAP. “Não é preciso verificar duas vezes se a equipe de avaliação está olhando para os mesmos dados que a mesa de negociação.”
Talvez o mercado de câmbio esteja entre os primeiros a adotar a blockchain, mas a tecnologia pode ser ainda mais útil em mercados menos eficientes. As transações à vista representam aproximadamente 33 por cento dos US$ 5,1 trilhões em moedas que trocam de mãos diariamente.
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