Blockchain: uma visão para finanças descentralizadas

À medida que o mercado de criptomoedas cresce, uma série de debates vem surgindo sobre o papel das criptomoedas nos mercados financeiros. Em uma palestra recente no seminário BBQ (Bloomberg Quant), Alexander Lipton, cofundador e CTO da Sila, professor e membro da reitoria da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Connection Science do MIT, apresentou suas ideias sobre a criação de um mecanismo de mercado automatizado de liquidação cruzada para ativos digitais em blockchains interoperáveis. Após vários anos de evolução, os mais recentes desenvolvimentos na tecnologia blockchain podem eventualmente fornecer uma alternativa à forma como o câmbio é negociado. A ideia é encontrar um mecanismo que permita o comércio de diferentes moedas fiduciárias de maneira automatizada e descentralizada, em vez de passar por formadores de mercado. Uma pergunta fundamental é: “o que devemos fazer para atualizar nossos sistemas bancários existentes?”

Três tipos de sistemas financeiros

Como pano de fundo para esta discussão, Lipton vislumbra a informação organizada em três tipos de arranjos: centralizado, descentralizado e distribuído. Em um sistema centralizado, o sistema bancário de um país opera com um nó central, que é um banco central, e outros bancos podem se comunicar apenas por meio desse nó. Em um sistema descentralizado, existem arranjos internacionais, onde os nós centrais são os bancos centrais dos respectivos países, que podem interagir entre si. Finalmente, em um arranjo distribuído, todos os nódulos podem interagir entre si. Dada a potencial complexidade de tal sistema, é importante preservar a integridade por meio de uma blockchain. Um mecanismo para fazer isso é a “prova de trabalho”. Uma vez que o protocolo blockchain é estabelecido, as partes da transação simplesmente anunciam sua intenção. Alice, por exemplo, pretende enviar um determinado valor para Bob e, desde que o valor esteja disponível, o envio ocorrerá. Os mineradores que mantêm a integridade do sistema entrarão em ação para confirmar a transação, desde que seja legítima; então os nós irão gravá-la.

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Considere, por exemplo, o protocolo Bitcoin projetado pelo anônimo Satoshi Nakamoto em 2008. Desde sua criação, o protocolo funciona da maneira como foi projetado, o que é uma grande conquista. No entanto, apresenta alguns problemas, incluindo um baixo número de transações por segundo. Uma segunda questão é uma irônica falta de descentralização, que está surgindo porque ser um minerador individual é uma posição financeiramente perigosa e, portanto, os mineradores tendem a se unir em grupos gigantes. “É assim que o capitalismo opera, independentemente das intenções originais”, diz Lipton. “As grandes corporações sempre aparecem e competem entre si, então não se pode dizer que é um monopólio, mas sim um oligopólio.”

Um novo caminho com Ethereum e outros protocolos de consenso

O surgimento da Ethereum foi um avanço, pois se trata de uma estrutura virtual, distribuída e completa de Turing, capaz de executar contratos inteligentes. Tais contratos são essenciais para o câmbio de moedas, mas, novamente, há alguns desafios a serem superados. “A Ethereum pode proporcionar autonomia, confiabilidade, segurança e precisão”, explica Lipton, “mas contratos inteligentes que não são compostos adequadamente não podem ser ajustados, o que transforma os bugs em elementos com os quais você precisa conviver enquanto tiver o dinheiro”. Quanto à implementação eletrônica de moedas fiduciárias, a abordagem mais direta seria os próprios bancos centrais mapearem as já existentes para a blockchain, criando uma nova moeda digital atrelada a eles. Nenhum banco central relevante colocou esse projeto em prática ainda, embora o People’s Bank of China esteja conduzindo um experimento de grande escala que, ironicamente, não utiliza ledgers distribuídos.

Quanto aos mercados financeiros, a interoperabilidade da blockchain pode ser desenvolvida por meio de formadores de mercado automatizados. No futuro, quando as moedas digitais dos bancos centrais surgirem e forem mapeadas para uma blockchain, será possível fazer uma análise mais aprofundada do que se passa com o câmbio. Por enquanto, um backtest com as moedas do G10 revelou as características estatísticas da atividade, incluindo a maneira como as coisas estão correlacionadas e como o lucro está ligado ao número de transações por dia. “As possíveis novas criptomoedas são bem interessantes,” diz Lipton, “mas provavelmente não o que precisamos para os propósitos de altas finanças. Entretanto, utilizar protocolos de consenso como um serviço para fins de finanças descentralizadas parece algo extremamente promissor, e a possibilidade de automatizar o câmbio soa particularmente entusiasmante.”

Lightning talks

Após a curta sessão de perguntas e respostas, Bruno Dupire deu início à uma série de “lightning talks”, apresentações de 5 minutos onde especialistas da indústria, pesquisadores e acadêmicos apresentam uma ampla gama de assuntos para estimular novos pensamentos e interação entre várias disciplinas. Cada apresentação examina a evolução da indústria e serve como um aspecto exploratório essencial da série de seminários Bloomberg Quant (BBQ).

Nesta sessão, Petter Kolm, do Instituto Courant de Ciências Matemáticas da NYU, comentou sobre a utilização da aprendizagem profunda (deep learning) para analisar o alfa de alta frequência. Philip Lasser, da The Juilliard School, também mostrou seu trabalho sobre a estrutura orgânica da obra musical de JS Bach, e Guixin Liu, da Bloomberg, apresentou um tutorial sobre variáveis instrumentais e causalidade. Encerrando a rodada de lightning talks,
Stanislav Uryasev, da Stony Brook University, trouxe insights sobre a otimização de portfólio e o beta de drawdown (que mede o declínio de um pico histórico em alguma variável).

Sobre a série de seminários Bloomberg Quant

A série de seminários Bloomberg Quant (BBQ) é realizada todo mês e abrange uma ampla gama de tópicos em finanças quantitativas. O seminário BBQ é apresentado em formato virtual e programado para acomodar participantes de toda a EMEA e das Américas. Cada sessão é presidida por Bruno Dupire, chefe de Pesquisa Quantitativa da Bloomberg L.P., e destaca um palestrante principal apresentando sua pesquisa atual. Esta apresentação é seguida por várias “lightning talks” consecutivas de 5 minutos cada. Este formato dá ao público a oportunidade de ser exposto a uma maior variedade de tópicos.

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