Por Cristiane Lucchesi e Felipe Marques.
O Bank of America está expandindo sua operação de renda fixa no Brasil para incluir títulos no mercado local, um negócio em expansão onde o otimismo com os juros baixos e as reformas econômicas do governo levaram a um recorde de emissões no ano passado.
O banco começou a trabalhar com clientes neste mês para ajudar na potencial venda de títulos de dívida corporativa em moeda local no mercado interno para investidores profissionais, seguindo as regras da instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários, disse Eduardo Alcalay, presidente do BofA no Brasil.
“No cenário atual de juros baixos, os investidores precisarão buscar mais rendimento e migrar seus investimentos para títulos corporativos locais e ações”, disse Alcalay em entrevista em São Paulo.
A emissão de títulos de dívida no mercado interno subiu 41% no ano passado, para um recorde histórico de R$ 142 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg, já que o custo de financiamento das empresas ficou mais barato no Brasil do que nos mercados internacionais.
Os maiores bancos do Brasil dominam o mercado, com Itaú BBA e Bradesco BBI liderando o ranking no ano passado, segundo os dados compilados pela Bloomberg. O Citigroup vem coordenando a emissão de títulos no mercado interno que às vezes são usados como empréstimos-ponte para aquisições, e o Goldman Sachs tem usado os papéis para oferecer seletivamente financiamentos estruturados locais de longo prazo para projetos. Os títulos dão às empresas vantagens fiscais sobre os empréstimos bancários.
Alcalay disse que há espaço para mais bancos porque o mercado potencial é grande: do R$ 1,4 trilhão de crédito total no Brasil, apenas 10% são títulos locais na carteira de gestores de recursos de terceiros. Empréstimos bancários e títulos locais nos balanços dos bancos compõem o restante, estimou ele.
A expansão não exigirá que o Bank of America contrate mais pessoas, disse Hans Lin, responsável pelo banco de investimentos no Brasil do BofA, que tem sede em Charlotte, Carolina do Norte.
“Hoje nós já conversamos com gestores de recursos para vender ações, títulos internacionais e produtos estruturados, e também já temos relacionamentos com empresas-chave no país”, disse Lin. “Temos gente suficiente e não há necessidade de contratar.”
Também não há necessidade, pelo menos inicialmente, de aumentar os R$ 2,6 bilhões de capital que o Bank of America tem no Brasil, disse Alcalay.
“Nossos negócios de crédito e de banco de investimento vão crescer”, disse ele, acrescentando que o trading de ações cresceu 50% em relação à média diária do ano passado, e a plataforma de transaction-banking e o trading de renda fixa também estão se expandindo.
Grande parte do entusiasmo com o Brasil se deve à vitória de Jair Bolsonaro, que estimulou o otimismo entre os investidores que esperam que seu ministro da economia, Paulo Guedes, consiga reformar a economia brasileira.
Apenas dois anos depois de reduzir drasticamente sua presença no Brasil, o HSBC está contratando para criar um banco corporativo e de investimentos completo no país, de acordo com uma pessoa familiarizada com os planos. O Deutsche Bank está transferindo sua operação de renda fixa e câmbio de volta para São Paulo, depois de transferir o negócio para Nova York em 2016, de acordo com a presidente no Brasil, Maite Leite.
“Os fundamentos do Brasil estão em muito boa forma”, disse Lin, que previu que a inflação moderada e as baixas taxas de juros atrairão as empresas para os mercados de capital para levantar recursos. Além disso, “um governo liberal, que nós não tivemos nos últimos 30 anos”, está prometendo promover negócios e privatizações, com políticas econômicas que devem beneficiar a indústria bancária, disse ele.