A bolsa está cara ou ainda barata?

Por Josue Leonel, Paula Sambo e Vinícius Andrade com a colaboração de Ricardo Strulovici Wolfrid.

Mesmo após o recorde da bolsa nesta semana, as ações brasileiras ainda parecem significativamente baratas quando o índice Bovespa é medido em dólar e comparado com o pico registrado em 2008. A relação entre o preço e o lucro das empresas do índice superou levemente a média, mas este pode não ser o maior problema, e sim o complexo ambiente político-econômico em um ano de eleições, segundo analistas do mercado.

Em um sinal da sensibilidade ao noticiário sobre as reformas, o Ibovespa reverteu a alta no meio da tarde da quinta-feira e caiu levemente, fechando abaixo dos 81.000 pontos após a Bloomberg noticiar, citando uma fonte do gabinete presidencial, que a reforma da Previdência pode ficar para após a eleição.

O Ibovespa pode chegar a um nível entre 85.000 e 90.000 pontos este ano e será influenciado pela eleição, diz Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management. Esse target já assume um presidente reformista sendo eleito, caminhando para 90.000 se o presidente tiver boa base no Congresso e 85.000 se tiver uma a oposição forte. Se a reforma da Previdência for votada e passar ainda este ano aumentam as chances de uma alta mais forte do que a estimada da bolsa, diz o estrategista. No caso de derrota, o impacto será negativo, mas reduzido pelo fato de o mercado ser cético com a proposta.

Quando o valor das ações do índice é medido em dólar, a bolsa ainda tem “um caminho grande para percorrer”, mas o risco de correções existe, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Corretora. A eleição “está no radar” do investidor e, nos níveis atuais, o mercado fica mais sensível a eventuais notícias negativas que possam causar uma realização de lucros. “A bolsa em reais está esticada”, diz Spyer.

A alta das ações brasileiras se deve ao otimismo do mercado global, dizBernardo Rodarte, da Sita Corretora. Para ele, sem o cenário externo benigno, seria bastante improvável o Ibovespa estar no nível atual após noticiário de que a reforma da Previdência pode ser deixada para após eleição. “Se a Previdência não passar, as contas vão arrebentar rápido e seremos rebaixados pelas outras agências de rating”.

O ceticismo com a reforma, contudo, não tem afastado o capital externo da bolsa. O saldo acumulado de recursos estrangeiros em ações na B3 no acumulado do ano até 17 de janeiro está positivo em R$ 4,9 bilhões, caminhando para maior volume desde janeiro de 2017. Mario Avelar, gestor de portfólio da Avantgarde Capital, tem uma visão otimista e também cita as expectativas para o julgamento do ex-presidente Lula, no dia 24, além do desempenho positivo do mercado externo. “O mercado começa a olhar para julgamento de Lula com nível de otimismo muito alto”, diz Avelar.

Spyer, da Mirae, considera que, para a bolsa voltar ao nível de 2008, quando o índice superou os 44.000 pontos em dólares, seria necessária uma combinação perfeita de notícias positivas em todos os campos, econômico, político e internacional. Ele lembra que quando a bolsa atingiu seu pico histórico, antes da crise global quase uma década atrás, o país vivia sob um “céu de brigadeiro”, uma situação diferente do quadro vivido hoje, apesar dos sinais de melhora da economia desde o ano passado.

O recorde anterior da bolsa foi atingido em 30 de maio de 2008, poucos antes de o mercado sofrer forte queda com o estouro da crise financeira global. Antes da crise, o quadro era de mundo em expansão puxada pela China, que crescia mais de 10% ao ano. No Brasil, o rating do país tinha acabado de ser elevado a grau de investimento, o PIB avançava com inflação controlada, as contas públicas tinham elevado superávit e o então governo Lula, com Henrique Meirelles no Banco Central, tinha a aprovação dos mercados. Hoje, a mesma S&P que primeiro promoveu o Brasil em 2008 acaba de rebaixar o rating do país a três graus abaixo do grau de investimento.

Patah, do UBS, observa que os estrangeiros miram sobretudo o patamar da bolsa em dólar na hora de investir, mas muitas variáveis são observadas. Em termos de relação preço/lucro, a bolsa está levemente acima da média de um ano. Além disso, a alta recente mostra que o mercado já antecipou boa parte do aumento do lucro das empresas esperado para este ano, o que indicaria cautela ao investidor.

Para Patah a alta da bolsa é favorecida também pela expectativa de crescimento maior da economia brasileira e pela expansão global, que traz a novidade de ocorrer tanto na Ásia quanto nos EUA e Europa. “As maiores economias estão crescendo de forma sincronizada”. Para a bolsa ganhar maior impulso e retomar os níveis do pico de 2008, contudo, Patah faz coro com a maioria dos analistas e coloca a eleição de um “presidente reformista” como fator fundamental.

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