Por Maria Kolesnikova, com a colaboração de Filipe Pacheco.
O papel do Brasil como investimento em bonds mais lucrativo dos mercados emergentes pode ter vida curta, segundo a Aberdeen Asset Management e o Commerzbank.
Os bonds em dólares do país deram retorno de 1,9 por cento na semana passada, melhor desempenho entre os 60 países em desenvolvimento monitorados pela Bloomberg. Contudo, os ganhos são apenas um alívio em relação à queda do ano passado, que causou um prejuízo de 16 por cento aos detentores de bonds, o pior entre os mercados emergentes depois da Zâmbia.
E com o Brasil sendo assolado pelo aprofundamento da crise econômica e política, não são boas as probabilidades de o país conseguir sustentar seu bom desempenho inicial. A maior economia da América Latina caminha para a recessão mais profunda desde 1901, pelo menos. Enquanto isso, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está obstruindo as reformas fiscais e a desaceleração global sufoca a demanda pelas exportações de commodities do país.
“Houve uma queda forte no Brasil no ano passado, por isso não surpreende que na ausência de mais notícias ruins eles consigam se recuperar”, disse Viktor Szabo, que ajuda a administrar mais de US$ 11 bilhões em dívidas de mercados emergentes para a Aberdeen em Londres. “Contudo, eu não me basearia tanto no desempenho de uma semana. O Brasil tentará sair dessa situação, por isso a pergunta é se os mercados permitirão isso. A perspectiva fiscal continua muito sombria”.
O PIB vai encolher 2,99 por cento em 2016 após uma contração de 3,73 por cento no ano passado, segundo uma pesquisa do banco central divulgada na segunda-feria. A piora das finanças do país ajudou a causar dois rebaixamentos de rating para junk no ano passado.
Desaceleração na China
Para piorar as coisas, a China, maior parceira comercial do Brasil, também está sofrendo uma desaceleração econômica que provoca turbulência em seus mercados financeiros.
A capacidade de Dilma de reforçar a economia brasileira diante dessa situação é limitada porque ela está lutando por sua sobrevivência política. Os líderes do Congresso, que estarão em recesso até 2 de fevereiro, estão tentando retirá-la do cargo por supostamente maquiar as contas públicas e receber fundos de campanha decorrentes de atividades fraudulentas. Ela nega qualquer irregularidade.
“Janeiro parece relativamente bom para o Brasil, considerando que os políticos estão de férias, mas vem fevereiro, o distúrbio provavelmente será retomado com a probabilidade de mais rebaixamentos e com a clara exposição do Brasil à China”, disse Simon Quijano-Evans, estrategista de mercados emergentes do Commerzbank em Londres.
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