Bonds prejudicados pela prisão de Marcelo Odebrecht devem enfrentar mais perdas

Por Filipe Pacheco e Carolina Wilson.

Para os que investiram nos bonds da maior construtora do Brasil, os problemas podem estar só no começo.

Os US$ 519 milhões em notas com vencimento em 2025 da Odebrecht Finance propiciaram aos seus detentores algumas das maiores perdas no segmento renda fixa corporativa de mercados emergentes depois que o CEO do grupo foi preso no dia 19 de junho como parte de uma investigação sem precedentes no país. Os bonds despencaram 11,6 por cento desde que Marcelo Odebrecht foi detido.

Conseguir financiamento provavelmente ficará mais difícil para a Odebrecht, que tinha uma dívida líquida de R$ 63,3 bilhões (US$ 20 bilhões) até dezembro e se contaminou ainda mais com o escândalo de propinas, disse a Sita Corretora SA. O Jefferies LLC também adverte sobre mais perdas por vir, pois agências de classificação de risco já sinalizaram possíveis novos cortes da nota da Odebrecht, depois de dois rebaixamentos que já aconteceram neste ano.

“O acesso ao financiamento certamente ficou mais difícil para eles”, disse Bernardo Rodarte, que ajuda a supervisionar R$ 1 bilhão em ativos na Sita Corretora, em mensagem enviada por e-mail. “A empresa tem uma grande quantidade de ativos que poderia vender. Mas quem iria comprá-los agora?”.

A empresa tem sido transparente com investidores e com as empresas de classificação de risco com o intuito de reduzir dúvidas sobre os acontecimentos recentes, disse Marco Rabello, diretor financeiro da Odebrecht Engenharia e Construção, que emitiu os bonds, em uma resposta enviada por e-mail. As flutuações do preço também podem ser atribuídas à volatilidade macroeconômica, disse ele.

A empresa considera seus ratings atuais estão abaixo do que refletem seus indicadores econômicos e sua condição creditícia, e não está tendo dificuldade para conseguir financiamento, acrescentou Rabello.

Empresa internacional

Jacobo Gadala-Maria, presidente da gestora de ativos Unimar Financial Services, disse que vai manter os bonds da Odebrecht que tem em carteira, pois a empresa será capaz de sobreviver ao escândalo.

“Essa é uma companhia internacional, com projetos de primeira linha que geram receita em todo o planeta”, disse ele em uma entrevista por telefone, de Miami. “Não se pode substituir uma construtora como a Odebrecht da noite para o dia, nem ninguém gostaria de fazer isso. A ameaça da acusação de subornos é tão grande para derrubar a empresa? Minha resposta é que não”.

Para Alexis Panton, da Jefferies, os bonds da Odebrecht ainda não compensam os investidores pelo risco de perdas futuras, especialmente pelo fato de que as três principais agências de classificação de risco têm uma perspectiva negativa para a construtora.

Ele aponta para o yield das notas em comparação com as dívidas com um vencimento semelhante da Petrobras. A 8,1 por cento, os bonds da Odebrecht têm um yield 1,5 ponto porcentual maior do que a dívida da produtora de petróleo. O valor é inferior ao diferencial recorde de 2 pontos porcentuais registrado em fevereiro.

“Os detentores de bonds estão recebendo um prêmio insuficiente considerando-se as variáveis de fundamento e os riscos de notícias negativas relativos ao crédito”, disse Panton, diretor de estratégia corporativa para América Latina da Jefferies, em um relatório do dia 7 de julho. “Acreditamos que o risco de mais rebaixamento é alto, tanto por causa das notícias quanto das variáveis de fundamento”.

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