Bradesco passa à frente do Itaú e se torna maior gestor de ativos do Brasil após aquisição de unidade do HSBC

Por Cristiane Lucchesi e Francisco Marcelino.

Com a aquisição da unidade brasileira do HSBC Holdings Plc, o Banco Bradesco SA se transforma no maior gestor privado de ativos do Brasil, passando à frente do Itaú Unibanco Holding SA.

A participação do Bradesco no mercado de gestão de ativos do país, avaliado em R$ 2,9 trilhões (US$ 830 bilhões), subirá de cerca de 13 por cento atualmente para quase 16 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. A fatia do Itaú é de 15 por cento. O Banco do Brasil SA, que é estatal, ainda lidera o mercado, com uma participação de 21 por cento.

O negócio consolida mais os ativos em um mercado que já está entre os mais concentrados do mundo. As 10 principais firmas do Brasil gerenciam 83 por cento dos ativos em fundos, diz a associação das entidades de mercados de capitais, a Anbima. O total é quase três vezes maior do que a participação de 28 por cento mantida pelas 10 maiores gestoras globalmente, segundo a consultoria Towers Watson Co., com sede em Nova York.

“O Bradesco pagou mais para conseguir participação de mercado e para evitar que algum de seus principais competidores aumentasse a sua”, disse o analista do Deutsche Bank AG Tito Labarta, em entrevista, de Nova York. “A gestão de ativos é uma espécie de negócio defensivo no qual você não tem o risco de crédito do lado do banco, por isso é mais estável, com um fluxo de receita mais constante e baseado em taxas de administração e de performance”.

O Bradesco, cuja sede fica em Osasco, São Paulo, superou o Itaú, que tem sede em São Paulo, e o Banco Santander Brasil SA, de origem espanhola, na oferta pela unidade local do HSBC. O Bradesco anunciou o negócio de US$ 5,2 bilhões no dia 3 de agosto na sua maior aquisição na história. O preço de compra representa quase 15 vezes os lucros deste ano, enquanto a maioria dos bancos é negociada a cerca de 8 vezes, disse Labarta.

Valor dos seguros

A expectativa era que a unidade brasileira do HSBC alcançasse um valor em torno de US$ 4 bilhões, disseram fontes informadas sobre o negócio em maio. A importante diferença pode ser explicada pela avaliação de R$ 4,7 bilhões do negócio de seguros, disseram os analistas do Banco do Brasil Mario Bernardes Junior e Carlos Daltozo em um relatório.

Com a economia brasileira caminhando para a pior recessão em 25 anos, o acordo para diversificar a receita ajudará o Bradesco a resistir à recessão. O CEO Luiz Carlos Trabuco Cappi prometeu, em uma teleconferência, em 3 de agosto, uma “rápida integração uma vez que os órgãos reguladores aprovem a transação”.

A economia brasileira, a maior da América Latina, deverá encolher 1,5 por cento neste ano, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

O Bradesco disse em uma apresentação, em 3 de agosto, que o negócio aumenta a receita dos “negócios lucrativos que são menos dependentes de capital, como seguros, gestão de ativos e private banking”.

O Bradesco e o Itaú preferiram fazer não comentários para esta reportagem.

Ativos totais

O banco disse em sua apresentação que terá 16 por cento dos ativos totais do sistema bancário brasileiro depois que a unidade for integrada. A participação do Banco do Brasil é de 19,2 por cento dos ativos totais e o Itaú vem em segundo lugar, com uma fatia de 16,2 por cento.

O negócio de gestão de ativos do Bradesco respondeu por R$ 2,4 bilhões dos R$ 22 bilhões em receita com serviços do ano passado e o setor de seguros representou cerca de um terço do lucro líquido.

“O Bradesco tem sido muito claro quanto ao desejo de crescer nos negócios que oferecem serviços aos clientes, como gestão de ativos e seguros, e a aquisição do HSBC se encaixa perfeitamente nessa estratégia”, disse o analista da firma de consultoria de investimentos Empiricus Research, com sede em São Paulo, Max Bohm. “Em gestão de ativos, você tem ganhos de escala significativos, por isso quanto maior você se torna, mais lucrativo você pode se tornar”.

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