Por Felipe Marques e Cristiane Lucchesi.
Para a maioria das empresas brasileiras, o hedge cambial costuma ser o mais exótico derivativo que elas estão dispostas a usar. O Bradesco está tentando expandir o cardápio.
O banco, que é o segundo maior do Brasil em valor de mercado, está oferecendo mais instrumentos de proteção financeira a empresas contra eventos imprevistos, como flutuações súbitas nas taxas de juros e nos preços das ações, segundo Cassiano Scarpelli, diretor executivo gerente responsável pela tesouraria do Bradesco, que tem sede em Osasco.
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“As companhias têm muitas oportunidades de hedge além do risco cambial”, disse Scarpelli, em entrevista. “Essa é uma parte pouco explorada pelo mercado no Brasil e temos conversado sobre isso com empresas com as quais nunca tínhamos tratado antes.”
Os derivativos de câmbio, incluindo futuros, opções e swaps, representavam 73 por cento do total de R$ 517,1 bilhões (US$ 165 bilhões) em contratos feitos por empresas não-financeiras no Brasil em agosto, segundo dados compilados pela B3 SA — Brasil, Bolsa, Balcão. Scarpelli tem encontrado clientes mais receptivos à ideia de ter diferentes tipos de instrumentos em meio à queda nos juros básicos para níveis recorde. As empresas brasileiras poderiam usar derivativos de taxa de juros, por exemplo, para trocar passivos de taxas pós-fixadas por passivos de taxa pré-fixada.
O hedge de taxas de juros é um produto com “muito potencial”, segundo Scarpelli. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central já reduziu a Selic dos 14,25 por cento de um ano atrás para 8,25 por cento. Os contratos que fazem swap de taxa flutuante para taxa fixa mostram a taxa futura implícita em 7,16 por cento daqui a um ano e 7,97 por cento daqui a dois anos, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“O Brasil pode piorar novamente — existe muita incerteza em relação às próximas eleições”, disse Scarpelli.
Outras empresas precisam de hedge para diferentes tipos de exposição.
Acordo com BRF
A BRF, maior empresa de alimentos do Brasil, é um desses clientes. A companhia informou em agosto que venderia 13,5 milhões de ações da BRF de que dispunha para aumentar seu caixa. Ao mesmo tempo, o Bradesco vendeu à BRF derivativos chamados total return swaps, que entregam à empresa o mesmo retorno que as ações que a empresa tinha anteriormente pagariam, segundo comunicados da BRF.
O derivativo permite que a BRF mantenha sua exposição à ação e ao mesmo tempo libere caixa antes travado em participações acionárias, uma estratégia útil quando uma empresa tem ações como parte de pacotes de remuneração a executivos.
A BRF preferiu não fazer comentários adicionais aos comunicados.
O banco também está tentando melhorar a oferta de hedge para os preços das commodities, inclusive para empresas brasileiras de médio porte, disse o diretor de tesouraria do banco, Paulo Waack.
O Bradesco fez um esforço nos últimos anos para tornar seu departamento de tesouraria mais proativo em relação à oferta de novos produtos aos clientes, decisão que ganhou impulso com a compra da unidade brasileira do HSBC, no ano passado. Cerca de 30 novos profissionais do HSBC foram adicionados, elevando o total de funcionários a 120 pessoas.
Entre as adições está Bruno Cardoso, um superintendente executivo que dirige a unidade de produtos estruturados. Flávio Bortoletto, que trabalhou mais de 20 anos no Itaú Unibanco, o maior rival do Bradesco, se uniu ao time da tesouraria em julho.
“A tesouraria do HSBC tinha uma equipe de produtos forte que complementou a nossa”, disse Scarpelli. “Agora temos uma equipe de tesouraria com mais músculos e mais ativa para os clientes.”
Roberto Paris, diretor departamental de tesouraria do Bradesco, disse que o mercado de hedging do Brasil tem uma “liquidez razoável”, o que permite ao banco “dar aos clientes o que eles querem — incluindo transações de cinco e sete anos”.
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