Brasil busca sacudir pessimismo da indústria petrolífera com nova rodada de concessões

Por Peter Millard e Sabrina Valle.

O Brasil leiloará blocos de exploração de petróleo nesta quarta-feira pela primeira vez desde que um colossal escândalo de corrupção paralisou a indústria petrolífera do país e forçou a estatal Petrobras a reduzir investimentos.

Mais de 260 áreas onshore e offshore estão em disputa, incluindo blocos em águas profundas na bacia de Sergipe-Alagoas, ao largo da costa nordeste do país, onde a Petrobras realizou uma série de descobertas nos últimos anos. O Brasil, que confia à Petrobras mais de 90 por cento de sua produção petrolífera, está buscando atrair mais operadoras estrangeiras para promover a concorrência e reforçar seus fragilizados setores naval e de serviços petrolíferos.

O Brasil enfrentará muitos dos mesmos obstáculos que dificultaram dois leilões petrolíferos neste ano no México. Os preços do petróleo caíram quase 50 por cento nos últimos 12 meses e as empresas do setor, da ConocoPhillips à Royal Dutch Shell Plc, estão cortando investimentos. Além disso, as acusações de que executivos da Petrobras e construtoras conspiraram para fraudar contratos deixaram os investidores estrangeiros mal-humorados em relação à maior economia da América Latina.

“Se fosse considerado apenas o aspecto geológico dos blocos, o potencial seria bastante promissor”, disse Pedro Zalán, geólogo da consultoria de energia ZAG, no Rio de Janeiro. Apesar de as empresas que apresentam ofertas pelos contratos não serem obrigadas a se juntar à Petrobras, como no leilão de blocos em águas ultraprofundas de 2013, as normas as obrigam a utilizar principalmente equipamentos produzidos localmente e as dificuldades para obtenção de algumas licenças ainda poderia impedir uma grande participação, disse ele.

A Petrobras, que está vendendo US$ 15,1 bilhões em ativos e cortando seu orçamento de investimentos em mais de um terço, deverá ter um papel muito menor nesse leilão do que em vendas anteriores, disse Cleveland Jones, geólogo e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Se a empresa participar, provavelmente tomará participações minoritárias e colocará uma parcela maior do encargo financeiro sobre suas parceiras, disse ele.

Isso abre as portas para que operadoras estrangeiras ganhem uma presença maior no país dono do maior conjunto de descobertas offshore do mundo neste século, disse ele.

“Se você colocar alguns blocos bons no mercado haverá interessados, mesmo neste cenário”, disse Jones. “As operadoras estrangeiras têm de ficar com parte do encargo. É a única forma de alguns desses projetos poderem ser desenvolvidos”.

Mais de 35 empresas brasileiras e estrangeiras se qualificaram para apresentar ofertas, incluindo Exxon Mobil Corp., Shell, BP Plc, Statoil ASA e Total SA, segundo a ANP, reguladora do setor. As empresas não responderam aos pedidos de comentário. A Petrobras e o Ministério de Minas e Energia do Brasil não responderam imediatamente aos e-mails em busca de comentário.

Venda do México

O México vendeu três das cinco áreas que ofereceu em um leilão em 30 de setembro, que foi o segundo do país desde a nacionalização de sua indústria petrolífera em 1938. Em um leilão em julho, o país vendeu apenas 2 das 14 áreas que estavam à venda.

O fato de nenhuma das grandes produtoras estrangeiras que estão no Brasil ter investido na última rodada do México aumenta a chance de que tenham conservado algum caixa para investir no Brasil, disse Zalán. “A qualidade geológica dos blocos oferecidos no Brasil é muito melhor que a dos blocos do México. Não há comparação”.

A Comissão Nacional de Hidrocarbonetos do México não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.