Por Sabrina Valle com a colaboração de Ben Bartenstein, Naureen S. Malik e Vanessa Dezem.
O comércio global de gás natural está em franca expansão, com a disparada da oferta em países como EUA e Austrália, mas o Brasil está cada vez mais longe dele.
As importações brasileiras de gás natural liquefeito (GNL) desabaram 75 por cento nos últimos dois anos, com o avanço da produção doméstica, além de reservatórios de hidrelétricas mais cheios. Petrobras e Royal Dutch Shell estão entre as empresas que conseguem extrair mais gás associado à produção de petróleo no pré-sal.
Com o salto na produção de gás, o Brasil — que agora produz internamente 67 por cento da demanda interna pelo combustível — passou a uma presença discreta no mercado global de GNL. Exportadores como EUA e Catar precisarão procurar outros compradores. A Bolívia, maior parceira comercial do Brasil nesse mercado, também precisa encontrar quem absorva sua produção.
“Sem dúvida haverá mais gás natural vindo dos campos do pré-sal nos próximos anos”, diz João Vitor Velhos, gerente da consultoria Gas Energy, de Porto Alegre. “Não há expectativa de o Brasil se tornar exportador tão cedo, mas a dependência histórica do gás natural está diminuindo.”
A extração nos campos do pré-sal colaborou para a produção de gás crescer quase 60 por cento nos últimos cinco anos, derrubando as importações de GNL para o menor nível desde 2011, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.
A demanda por gás estrangeiro caiu a tal ponto que, no final de 2016, um dos três terminais flutuantes de importação de GNL do País parou de converter GNL na costa do Rio, onde se desemboca produção do pré-sal.
Embora a produção doméstica tenha disparado, a demanda de gás continua representando apenas uma fração do consumo energético no Brasil, que é o segundo maior produtor mundial de energia hidrelétrica, somente atrás da China.
Enormes terminais de exportação de GNL foram reativados no mundo todo e o mercado global agora está com excedente. Mas poucos carregamentos chegam à costa brasileira. O GNL é responsável por menos de 6 por cento do abastecimento de gás no País e a maior parte das importações vem do Catar, Nigéria e Trinidad e Tobago.
Exportações dos EUA
Os EUA agora ocupam o quarto lugar no ranking mundial de produção do combustível, atrás do Catar, Austrália e Malásia.
Mais duas plantas de GNL vão começar a funcionar na Costa do Golfo dos EUA até o fim do ano que vem e a maior parte da produção deve ser destinada à Ásia – especialmente à China, onde a demanda aumenta devido a medidas de combate à poluição que forçaram o fechamento de usinas movidas a carvão — e ao México, onde usinas elétricas movidas a gás também estão se proliferando.
A maior independência do Brasil nesse mercado cria um problema para a Bolívia, responsável por 83 por cento do gás que o País compra de fora. O contrato de longo prazo para importação de até 30 milhões de metros cúbicos por dia termina em 2019 e pode ser reduzido pela metade depois disso. A Bolívia acelerou a busca por mercados alternativos, como a Argentina, segundo Ieda Gomes, pesquisadora sênior do Instituto Oxford de Estudos em Energia. O Ministério de Energia da Bolívia não retornou o pedido de comentário da reportagem.
O Brasil continuará importando volumes consideráveis de gás natural boliviano e GNL até 2026, segundo um representante do MME. Mas para serem mais competitivos no mercado brasileiro, os fornecedores de GNL precisarão reduzir preços ou oferecer contratos mais flexíveis, segundo o órgão.
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